Segundo o decano, a "gravíssima aleivosia" feita por Weintraub, "num discurso contumelioso e aparentemente ofensivo ao patrimônio moral" dos ministros, põe em evidência que tal afirmação configuraria possível delito contra a honra (como o crime de injúria). Mello ainda determinou que se oficie todos os ministros do STF sobre o fato, enviando a eles cópia de sua decisão, para que possam, "querendo, adotar as medidas que julgarem pertinentes".
No último mês de abril, Weintraub postou uma publicação irônica contra a China, insinuando que o país asiático sairia "fortalecido" da crise causada pelo coronavírus. Não foi só: afirmou que a China segurou informações sobre a pandemia para vender respiradores e máscaras a preço de leilão. O ministro também fez piada com o sotaque dos chineses, comparando-o ao do personagem "Cebolinha", criado por Maurício de Sousa. Weintraub chegou a usar uma imagem dos personagens da Turma da Mônica ambientada na Muralha da China e quase provocou uma crise diplomática. Em razão disso, o STF determinou a abertura de inquérito por racismo contra ele.
Desgastado no governo, Weintraub ficou ainda mais enfraquecido com a divulgação do vídeo. Ao se definir como um ministro "do grupo mais ligado com a militância", Weintraub admitiu que continuava "militando" e se queixou de "intrigas palacianas", além da "agenda própria" de muitos colegas. Embora não tenha dito a palavra Centrão, ele não escondeu a contrariedade com as negociações políticas em andamento.
"A gente tá conversando com quem a gente tinha que lutar. (...) Fico escutando esse monte de gente defendendo privilégio, teta ( ..) Negócio. Empréstimos. A gente veio aqui para acabar com tudo isso, não para manter essa estrutura", insistiu o ministro da Educação. A cena provocou mal-estar e constrangimento no Planalto, embora Bolsonaro tenha concordado ali com o raciocínio do auxiliar. "O que o Weintraub tá falando - eu tô com 65 anos - (é que) a gente vai se aproximando de quem não deve. Eu já tenho que me policiar no tocante a isso daí. São pessoas aqui em Brasília, dos três Poderes, que não sabem o que é povo", observou presidente na reunião.
Ataques
Integrante da ala ideológica do governo, que tem o escritor Olavo de Carvalho como guru, Weintraub é alvo do núcleo militar do Planalto. Nos últimos dias, os ataques a ele aumentaram nas redes sociais após sua resistência em adiar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na quarta-feira, porém, o governo confirmou que o Enem será postergado em um ou dois meses - de novembro para dezembro ou janeiro de 2021 -, por causa da pandemia do novo coronavírus.
A decisão, porém, expôs mais um capítulo da queda de braço dentro do governo. Bolsonaro teve de enquadrar Weintraub após ser informado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que seria derrotado no Congresso se insistisse em manter a data do Enem. O episódio serviu para irritar ainda mais o presidente. Bolsonaro tem se aborrecido com o ministro da Educação há algum tempo, mas vem adiando uma decisão mais assertiva sobre o destino do auxiliar. Um dos motivos é porque tem apreço pessoal por Weintraub e, principalmente, pelo irmão dele, Arthur, que é seu assessor na Presidência.
O problema é que Weintraub tem comprado várias brigas dentro e fora do governo. O ministro foi contra, por exemplo, entregar a presidência e diretorias do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que tem orçamento de R$ 29,4 bilhões neste ano, a partidos do Centrão. Bateu o pé enquanto pôde, obrigando Bolsonaro a lhe dar um ultimato: ou aceitava ou tinha de sair. Ele cedeu.
Ainda durante a reunião, Weintraub diz que "odeia" o termo povos indígenas. "Ele tá querendo transformar a gente numa colônia. Esse país não é… odeio o termo 'povos indígenas', odeio esse termo. Odeio. O 'povo cigano'. Só tem um povo nesse País. Quer, quer. Não quer, sai de ré. É povo brasileiro. Pode ser preto, pode ser branco, pode ser japonês, pode ser descendente de índio, mas tem que ser brasileiro, pô! Acabar com esse negócio de povos e privilégios", afirmou.