A pandemia de covid-19 agravou as desigualdades socioeconômicas e raciais na Educação. Foi o que revelou pesquisa do Data Favela, divulgada ontem pela Central Única das Favelas (Cufa), em parceria com o Instituto Locomotiva e a Unesco. Segundo o levantamento, a suspensão das aulas presenciais afetou 47,9 milhões de estudantes, mas o acesso ao método remoto de ensino prejudicou principalmente os estudantes das periferias e da rede pública.
Entre os motivos, a falta de experiência anterior de 89% dos professores da rede pública com aulas remotas. Além disso, 30% dos alunos das escolas públicas precisaram cuidar de algum parente idoso durante a pandemia. Conforme a pesquisa, apenas 21% dos estudantes das classes D e E (3/4 compostas por negros) têm acesso a computadores para acessar as aulas.
O levantamento revelou que só 39% dos alunos da classe C (metade formada por negros) têm computadores. Já 75% dos estudantes das classes A e B acessam o conteúdo. Nestas duas últimas classes, a presença de brancos é de 2/3.
Nas classes D e E, 73% dos estudantes só têm o celular para estudar a distância e 59% na classe C. Já na A e B, o número cai para 25%. Mesmo com smartphones, 26% dos alunos negros do Ensino Médio não participam das aulas.
Entre os não negros, 45% procuram essas modalidades de recreação por mês, contra 40% dos negros. Mesmo sendo ¾ da população, classes C, D e E respondem a apenas 43% das despesas com recreação e cultura, enquanto as classes A e B, a 57%. Brasileiros mais riscos gastam 3 vezes mais com essas áreas do que pobres.
A justificativa para a procura menor por lazer de classes mais pobres, é que este grupo pode dedicar uma parte menor do orçamento com cultura. Assim, famílias com renda de até R$1.908 gastam, em média, R$87,48, enquanto as que tem renda de até R$23.851, desembolsam uma média de R$5.687,28 com lazer.
"O principal obstáculo para o acesso à escola é a pobreza, que se conecta de forma muito estreita com o racismo. Na cultura, não é diferente. O acesso à cultura ainda é privilégio de alguns. Precisamos trabalhar juntos para que o direito à educação e à cultura sejam de fato de todos, sem exceção”, reforçou a diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Noleto.
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