Sergio Moro - Marcos Correa/PR
Sergio MoroMarcos Correa/PR
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Brasília - O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro disse em depoimento à Polícia Federal que ministros do governo Jair Bolsonaro reconhecem a ligação do filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), com o chamado "gabinete do ódio". Esse núcleo é composto por assessores do Palácio do Planalto ligados à ala ideológica do governo. Moro disse que, após deixar o Ministério da Justiça e Segurança Pública, em abril, passou a ser alvo de ataques nas redes sociais que teriam partido destes servidores.
A existência do "gabinete do ódio" foi revelada pelo Estadão em setembro do ano passado. O grupo ligado a Carlos inclui os assessores especiais da Presidência Tercio Arnaud, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz.
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As informações do ex-ministro foram prestadas à PF na investigação sobre atos antidemocráticos realizados entre março e junho. Moro foi ouvido como testemunha, e não é investigado. O inquérito foi aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República e tramita no Supremo Tribunal Federal.
Indagado se tinha conhecimento do envolvimento do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), de Carlos Bolsonaro, de Tercio Arnaud, de José Matheus e de Mateus Matos nas manifestações antidemocráticas, Moro afirmou, segundo termo de depoimento registrado pela PF, que "os nomes de Carlos e de Tercio Arnaud eram normalmente relacionadas ao denominado ‘gabinete do ódio".
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Sobre como tomou conhecimento dessa relação, o ex-ministro respondeu que isso ocorreu "por comentários correntes entre ministros do governo, entre ministros palacianos".
Moro, primeiro, não quis mencionar nomes, mas depois citou como "palacianos" os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e o secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten. Os ministros que atualmente trabalham no Planalto são, além de Ramos e Heleno, Walter Braga Netto (Casa Civil) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência).
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A investigação da PF mira parlamentares, youtubers, blogueiros e empresários bolsonaristas que teriam ligação com manifestações antidemocráticas nas quais foi defendido o fechamento do Supremo e do Congresso. A apuração tenta rastrear a movimentação de valores vinculada a esses atos e a geração de lucro nas redes sociais por meio da monetização de canais. A PF já ouviu, neste inquérito, Carlos Bolsonaro e os três assessores da Presidência que integram o "gabinete do ódio". O filho do presidente, em depoimento em setembro, negou ter qualquer relação com a divulgação de mensagens em redes sociais ou com a promoção dessas manifestações.
Ataques
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À PF, Moro também disse desconhecer a utilização de recursos e da estrutura do governo federal para a realização de ataques pelo "gabinete do ódio". Declarou, porém, que, após romper com o governo Bolsonaro, "chegou ao seu conhecimento que tais ataques eram oriundos do denominado ‘gabinete do ódio’".
O ex-ministro, registra o termo da PF, foi questionado se poderia nominar as pessoas responsáveis pela prática de tais condutas, direta ou indiretamente, mas ele respondeu que não saberia. O ex-juiz ainda negou conhecer ou manter relacionamento com qualquer um dos investigados do inquérito dos atos antidemocráticos.
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Em outro trecho, ao ser questionado se sabia da existência de uma estrutura montada no Planalto para atacar os presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado e do Supremo, Moro afirmou que "seu conhecimento sobre tais ataques vinha por meio das redes sociais e da mídia, não sabendo a origem de tais publicações".
Mas, em seguida, ao ser indagado se tal estrutura teria sido usada para "tentar impedir, com emprego de violência ou grave ameaça, o livre exercício de qualquer um dos poderes da União ou dos Estados", o ex-ministro da Justiça disse que "tinha conhecimento de uma animosidade entre o presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ)". Acrescentou ainda que Maia sofria ataques por meio de publicações em redes sociais, mas disse não saber de onde partiam tais ofensas.