
"As pessoas andavam sem máscaras, como se a pandemia tivesse acabado. Era assustador ver aquilo nas ruas de Pipa. Eu acabei fazendo uma coisa errada, que foi um passeio de barco dias após o réveillon, com um grupo de turistas nacionais e internacionais, e acabei sendo contaminado. Tive todos os sintomas e senti medo de morrer longe da minha família", relata um funcionário público que pediu para não ser identificado. Ele mora na cidade de Tibau do Sul, distante sete quilômetros da praia de Pipa, onde desenvolve um estudo para a universidade na qual atua no Rio Grande do Norte.
Conforme a pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e integrante do Comitê Científico da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap/RN), Marise Freitas, a ocorrência de casos novos em todo o Estado, a partir de janeiro, está em curva decrescente. Os aumentos dos casos novos confirmados nas cidades de São Miguel do Gostoso e Tibau do Sul são considerados isolados e não impactaram os dados consolidados do Rio Grande do Norte como um todo.
"Houve um aumento de casos de dezembro que nós atribuímos ao período eleitoral. Em algumas regiões, ocorreram aumentos que se distinguiram das outras, como é o caso do Seridó. Por ser um destino turístico, as pessoas que vieram ao Rio Grande do Norte para se aglomerar, elas necessariamente não moram aqui. Elas podem ter vindo para cá, se contaminado e voltado para seus locais de origem. Esse é um ponto que a gente não sabe. Nós temos um porcentual local que participa, como os trabalhadores que estiveram nas aglomerações", afirma Marise Freitas.
Há, porém, uma ressalva quando analisados os números de forma isolada. Marise Freitas chama atenção para o fato dos municípios em referência serem destinos turísticos que atraem milhares de pessoas do Brasil e do exterior - e que a maioria da população nativa atua em trabalhos vinculados à exploração turística. "Provavelmente, o aumento de casos nessas cidades seja reflexo desse movimento. Até porque as pessoas da cidade trabalharam nesse período, prestando serviços em restaurantes, pousadas. A gente pode inferir isso", ressalta a pesquisadora.
Média móvel no Estado em queda
Dados tabulados pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN), apontam queda na média móvel de novos casos de covid-19 no Estado. "Após o dia 5 de janeiro, vemos que há uma queda acentuada e sustentada dos novos casos", destaca o diretor executivo do LAIS/UFRN, Ricardo Valentim.
No dia 6 de janeiro, a média móvel de novos casos estava em 744 em relação aos sete dias anteriores. No dia 1º de fevereiro, essa média havia caído para 196 ante 7 dias passados. Conforme Ricardo Valentim, mesmo com o aumento de casos registrados ao longo do mês de dezembro do ano passado e início de janeiro deste ano, o quantitativo de mortes pela covid-19 não seguiu a mesma curva.
"O Rio Grande do Norte é um case dentro do País. Há inúmeros Estados em situação desfavorável em relação ao RN, com aumento de casos e mortes. Estamos num momento de redução sustentada dos novos casos", afirma o pesquisador. Segundo tabulação do LAIS/UFRN, a média móvel de mortes pelo novo coronavírus caiu de 11,36 no dia 31 de dezembro de 2020 para 6,29 no dia 30 de janeiro passado.
Para manter o número de novos casos em queda, o governo do Rio Grande do Norte acatou recomendação do Comitê Científico e determinou a suspensão dos festejos de carnaval em todo o Estado e cancelou os pontos facultativos entre os dias 13 e 17 de fevereiro.