A ocupação em CTIs na rede privada chegou a 95% no Estado
A ocupação em CTIs na rede privada chegou a 95% no EstadoReprodução/ internet
Por AFP
São Paulo - Nos hospitais brasileiros há cada vez mais rostos sem rugas e menos cabelos grisalhos. O coronavírus, que inicialmente causou estragos na população idosa, está começando a afetar os mais jovens.
Na lotada unidade de terapia intensiva (UTI) do hospital Emilio Ribas, em São Paulo, o dr.Jaques Sztajnbok conduz a reunião médica matinal.
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Na sala estão uma mulher de 53 anos e um homem de 56 anos, ambos entubados. A poucos metros de distância, um rapaz se contorce e parece desorientado, embora respire sozinho. Ele tem 26 anos.
“Estamos vendo uma prevalência de pacientes mais jovens, sem comorbidades, hospitalizados com quadros muito graves”, disse Sztajnbok, supervisor da unidade, à AFP. “Parece uma tendência frequente em todas as UTIs do Brasil”, acrescenta o médico de 55 anos.
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Essa parece ser a principal diferença nessa segunda onda da pandemia que desde fevereiro de 2020 já deixou mais de 287 mil mortos e infectou quase 12 milhões de pessoas no país, número superado apenas pelos Estados Unidos.
De resto, "pouco mudou": equipes de saúde trabalham sem parar e a curva de casos e óbitos aumenta incessantemente, agravada por uma variante mais contagiosa do vírus que surgiu na região amazônica.
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Nesta semana, o país atingiu pela primeira vez mais de 2.000 mortes por dia em uma média de sete dias.
O Emilio Ribas ampliou os leitos de terapia intensiva de 12 para 60. Mesmo assim, está com 100% de ocupação.
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"Perderam o medo"
As mortes de brasileiros de 30 a 59 anos começaram a aumentar em dezembro e em quase três meses passaram de 20% para quase 27% do total.
Concomitantemente, as mortes de maiores de 60 anos, que no final de 2020 giravam em torno de 78%, em março caíram para 71%, segundo dados do Ministério da Saúde.
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“Metade dos pacientes internados em nossas enfermarias tem menos de 60 anos”, diz Luiz Carlos Pereira Junior, diretor do Emilio Ribas. Há um ano eram 35%.
Os especialistas atribuem o aumento das internações de jovens ao não cumprimento das regras de distanciamento social, contra as quais se coloca o próprio presidente Jair Bolsonaro.
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O presidente incentiva multidões de simpatizantes, desdenha o uso de máscaras e critica os governadores que impõem restrições às atividades econômicas.
Nas ruas de todo o país é comum ver gente sem máscara e o transporte público lotado. Diariamente, há relatos de operações policiais contra festas e bares clandestinos.
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“No ano passado, acho que o medo de uma doença desconhecida tinha tamanho impacto que as pessoas aderiram às medidas de proteção, que não estão sendo seguidas agora (...) Os jovens perderam o medo”, diz Sztajnbok.
Hospitalizações mais longas 
A queda nos casos e mortes de pessoas com mais de 60 anos pode ser atribuída em parte ao impacto de uma campanha de vacinação de dois meses, apesar dos atrasos e interrupções, voltada para idosos e outros grupos prioritários.
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“Em alguns estados, a vacinação dos maiores de 75 anos já acabou. Além disso, a população idosa no geral é mais reclusa que os jovens, que circulam mais”, disse Walter Ramalho, epidemiologista da Universidade de Brasília ao portal Poder 360.
O Brasil, com 212 milhões de habitantes, enfrenta o "maior colapso sanitário e hospitalar" de sua história, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Entre as 27 unidades federativas - 26 estados e o Distrito Federal -, 25 possuem ocupação igual ou superior a 80% nas UTIs.
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A hospitalização de uma população mais jovem aumenta a pressão. São Paulo, por exemplo, registrou nesta quinta-feira o primeiro óbito por falta de vaga em uma UTI. A vítima: um homem de 22 anos.
“A permanência em leitos de UTI quase dobrou (de 15 para 28 dias). Isso se explica porque recebemos mais jovens que resistem à doença mais do que os idosos”, disse Graccho Alvim, presidente da Associação dos Hospitais Privados do Rio de Janeiro, ao jornal O Globo.