Estão neste grupo o próprio presidente Jair Bolsonaro, que completou 66 anos em março; e três dos quatro ministros que despacham no Palácio. Já passaram dos 50 os ministros Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil (64 anos); Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência (66); e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (73). A exceção é a titular da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (41).
A contaminação de servidores da Presidência atingiu o pico em julho de 2020, quando foram registrados 116 novos casos de servidores com a doença. Nos meses seguintes, o volume de novos casos declinou. Em março de 2021 voltou a acelerar, com 43 novas contaminações. No mês anterior, fevereiro, foram registrados apenas 17 novos casos. Ao menos um servidor morreu em decorrência da covid-19: o segundo sargento do Exército Silvio Kammers, que trabalhava no gabinete pessoal do presidente.
Se o Palácio do Planalto fosse um país à parte, estaria em segundo lugar no ranking mundial de infecções pela covid-19. Com uma taxa de contaminação de 15,7 por 100 mil, a Presidência da República brasileira só perderia para o principado de Andorra, uma pequena nação com 77 mil moradores na Europa. A taxa de casos em Andorra era de 16,2 casos por 100 mil nesta terça-feira, dia 13, segundo informações do site Our World in Data, desenvolvido pela Universidade de Oxford.
A taxa de infecção na Presidência da República - 15,7 por 100 mil -superaria com folga o segundo colocado no mundo real, Montenegro (15,0). Também seria quase três vezes maior que a taxa da população brasileira como um todo, que hoje é de 6,3 por 100 mil habitantes.
O infectologista Rivaldo Venâncio relativiza o número de infectados no Palácio do Planalto. Segundo ele, é possível que a taxa entre os servidores da Presidência seja mais alta que na população em geral por causa do maior acesso dos servidores à testagem para a covid-19, em comparação com os demais.
"Essas pessoas de uma forma ou de outra foram infectadas, por um infortúnio, o que não necessariamente se deu no ambiente de trabalho. Agora, eu não diria que é um número espantoso. Temos visto inquéritos epidemiológicos em outros locais (no Brasil) mostrando a presença de anticorpos em patamares inclusive superiores", diz ele, que é o atual coordenador de Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Outros Poderes também foram atingidos pela doença. Até fevereiro deste ano, por exemplo, a Câmara dos Deputados registrava 103 casos de infecção pelo novo coronavírus entre os deputados e 541 entre servidores ativos (concursados e comissionados). Os dados foram obtidos pelo Estadão por meio da Lei de Acesso à Informação.
A força de trabalho na Câmara é muito maior que a da Presidência da República, somando 14,5 mil pessoas. Ou seja, só 3,7% dos servidores contraíram a doença. Nesta semana, morreu o primeiro deputado por complicações da covid, José Carlos Schiavinato (Progressistas-PR).
Prevenção
Em resposta à reportagem do Estadão, a Presidência da República detalhou medidas que estão sendo tomadas para tentar reduzir a transmissão do vírus. De julho de 2020 a março de 2021, foram 174 "sanitizações" nos palácios do Planalto, da Alvorada e do Jaburu e da Residência Oficial da Granja do Torto, além da aquisição de totens com álcool em gel e tapetes sanitizantes para os pés. Servidores com mais de 60 anos e em grupos de risco passaram a trabalhar remotamente, e o acesso do público aos prédios foi reduzido.
"A Coordenação de Saúde da Presidência da República mantém a orientação para que os servidores procurem a assistência médica quando apresentarem quaisquer sintomas relacionados à Covid-19, a fim de avaliar necessidade de testagem. Nos casos considerados suspeitos, os servidores são orientados a ficar em casa até o resultado do exame", afirmou a Presidência, em nota.
"A Presidência da República também tem promovido, desde março, orientações sobre cuidados pessoais aos servidores e colaboradores, seja por meio de painéis, e-mails ou textos informativos na intranet. Nessas orientações, tem-se destacado os cuidados com a higienização das mãos, uso correto de máscaras, distanciamento social e, inclusive, os cuidados necessários ao chegar em casa, após o trabalho", diz o texto.
"Com cerca de um terço dos servidores em trabalho remoto (teletrabalho) ou em escala de revezamento, a Presidência da República busca continuamente manter o ambiente de trabalho o mais seguro possível e não hesitará em adotar procedimentos complementares, caso necessário", continua o órgão.
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