Para o médico José Medina, integrante do Centro de Contingência do Covid-19 de São Paulo, caso o projeto seja aprovado e posto em prática, poderá faltar vacina para o grupo prioritário do Plano Nacional de Imunização (PNI).
Medina explica que o grupo com maior risco de complicações pela Covid-19 são as pessoas com mais de 50 anos e as com comorbidades, como diabetes e problemas cardíacos. "Eu entendo que toda vacina deve ser destinada à vacinação dessas pessoas primeiro, sem interferência da condição social ou de vínculo empregatício", afirmou.
Na estimativa do Ministério da Saúde, o grupo prioritário tem cerca de 80 milhões de brasileiros. Por isso, são necessárias 140 milhões de doses para que todos fossem contemplados com as duas aplicações da vacina. Até o dia 14 de abril, as duas doses já foram aplicadas em 8.121.842 pessoas (3,84% da população do país) em todos os estados e no Distrito Federal.
"Projeto sem relevância"
A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo, diz ser "totalmente contrária a venda de vacinas e distribuição que não seja pelo governo", no momento atual da pandemia no Brasil.
"Quem tem que garantir a vacinação é o estado brasileiro. A falta de imunizantes no mercado é um problema e é importante lembrar que essas vacinas só foram desenvolvidas com essa rapidez porque houve um investimento muito alto de fundos públicos de governos", destacou a epidemiologista, ao relembrar que os principais fabricantes de vacina já terem dito publicamente que não irão negociar com a iniciativa privada, neste momento.
Ela acrescentou ainda que não há "relevância no fato das empresas vacinarem os seus funcionários". "O nosso problema não é a aplicação dos imunizantes, mas sim a falta de doses no país. Então, todos os imunizantes precisam ser administrados pelo PNI, já que a saúde é um direito de todos".
A vice-diretora geral da área de Medicamentos, Vacinas e Produtos Farmacêuticos da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mariângela Simão, também garantiu, em entrevista à CNN, que a entidade é contrária a compra de vacinas pela iniciativa privada, para que não haja um "desequilíbrio" na vacinação dos brasileiros.