O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres em depoimento na CPI da Covid
O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres em depoimento na CPI da CovidJefferson Rudy/Agência Senado
Por ESTADÃO CONTEÚDO
Em depoimento à CPI da Covid, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, defendeu que o assessoramento ao presidente da República para questões de enfrentamento à pandemia deve partir do ministro da Saúde. Para ele, ter outras pessoas "orbitando" e dando opiniões sobre o tema é uma situação que leva a "problemas administrativos sérios". "Não é do meu feitio esse tipo de coisa", disse Barra Torres. "No meio militar uma coisa que é ruim é alguém querer ser alguma coisa que não é. Não almejo nenhum outro lugar do que o que estou agora", afirmou também.
O presidente da Anvisa disse ainda não concordar com a máxima de que, no enfrentamento à covid, "um manda e outro obedece". A frase foi dita pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, após o presidente Jair Bolsonaro desautorizar o então ministro sobre a compra de doses da vacina Coronavac. "De maneira alguma (concordaria com a máxima). Qualquer ação da saúde deve ser pautada pela ciência", respondeu Barra Torres ao vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
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O presidente da Anvisa repetiu ser contra qualquer tipo de aglomeração ao ser questionado sobre a "motopasseata" da qual Bolsonaro participou neste domingo (9). "Sou contra qualquer tipo de evento como esse. Não compareci. Além ser sanitariamente inadequado, estava me preparando para estar aqui na CPI", disse Barra Torres. "Não concordo com esse tipo de aglomeração. Qualquer menção a não usar máscara, álcool em gel e ser contra vacinação vai contra as indicações sanitárias", reforçou.
Arrependimento
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Sobre sua participação, em março do ano passado, de manifestação ao lado de Bolsonaro, Barra Torres indicou estar arrependido. "Estive no Planalto com o presidente naquele dia (15 de março de 2020), havia uma manifestação e quando cheguei ele foi até perto dos apoiadores. Aguardei a interação, tratamos do que tinha que tratar. Hoje, tenho a consciência de que se eu tivesse pensado mais cinco minutos, não teria feito até porque não era um assunto que precisasse de urgência para ser tratado. Não refleti na questão da imagem negativa. Depois disso, nunca mais houve esse tipo de comportamento meu". respondeu Barra Torres.
Segundo ele, à época, não havia um consenso geral sobre o uso de máscara por parte de toda a população. "O que preconizava o ministério da Saúde, tornado explícito em 13 de março, era o seguinte: máscaras faciais devem ser utilizadas por profissionais da saúde, cuidadores de idosos, mães amamentando, e pessoas diagnosticadas com o coronavírus", disse.
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Bula de cloroquina
"Diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres, acaba de confirmar CRIME de Bolsonaro: Foi realizada no Palácio do Planalto reunião para mudar a bula da cloroquina para recomendar a pacientes de covid. Não achem que a CPI da Covid vai dar em nada!", escreveu a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), no Twitter, sobre o depoimento de Barra Torres na comissão Durante a sessão, Barra Torres confirmou a realização de uma reunião no Palácio do Planalto em que se discutiu um decreto que incluiria na bula da cloroquina a recomendação para tratar covid-19.