Reunião de governadores debate clima de tensão no país Reprodução
Publicado 23/08/2021 15:13
Em agenda de reunião para debater o cenário nacional, governadores reforçaram críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pela defesa das instituições democráticas no país. Entretanto, eles resolveram pedir uma audiência com o chefe do Executivo para tentar diminuir a tensão entre os poderes.
A ideia veio depois da falta de consenso em torno da divulgação de uma nota contra as ameaças feitas, especialmente porque poderia apenas ampliar o clima de instabilidade, sem resolver a situação.
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Para sair do impasse e não deixar de mandar uma clara mensagem de insatisfação ao presidente, a ideia de marcar uma agenda com Bolsonaro e com os outros representantes de Poderes foi proposta pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). A sugestão foi tratada como uma espécie de tentativa final de restabelecer alguma normalidade no país e que poderá servir para que Bolsonaro tenha uma espécie de "saída honrosa" para recuar dos ataques que vêm fazendo contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e das suas ameaças às eleições do próximo ano.

"Acho que temos de estabelecer que este é um país que tem eleitores do PT, do PSB, do MDB. Mas todos nós trabalhamos com uma única coisa: o bem-estar comum. O bem-estar da população e em especial da mais carente. Então, quando queremos levar essa conversa para o presidente é porque aqui não tem ninguém nem contra, nem a favor dele. Somos a favor de um país que merece, sim, um tratamento melhor das suas instituições para que a gente entre numa normalidade", disse o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
"Nós vamos nos colocar à disposição de um diálogo. Agora, o diálogo também depende da outra parte. Não se faz um diálogo se não tiver um outro interlocutor. A gente espera que o presidente, até pelo nível da situação a que o Brasil chegou nesse momento, das disputas institucionais, tenha essa atenção com os governadores", acrescentou Ibaneis, que tem boa relação com Bolsonaro.
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Os governadores disseram que preparam uma carta para o presidente da Câmara dos Deputados, Senado e do STF com o objetivo de diminuir a instabilidade política, além de avançar em pautas de interesse dos estados.
"Na agenda do fórum, nós aprovamos por unanimidade o compromisso do pacto pela vida, com a preocupação da variante delta e ampliação da vacinação, e do outro lado essa busca do diálogo, para criar um ambiente de serenidade e confiança no Brasil. Aprovamos solicitar uma agenda com o presidente da República e presidente da Câmara, Senado e STF. Além disso, ouvir também líderes empresariais e dos movimentos sociais para que a gente possa enfrentar melhor e tratar com prioridade é da falta do povo", disse o governador do Piauí, Wellington Dias (PT). 
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A reunião do Fórum Nacional de Governadores ocorreu três dias após Bolsonaro pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF, após constantes ataques aos ministros da Corte e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), além de colocar sob dúvida a realização das próximas eleições.
A divergência de visões sobre como tratar a crise com o governo ficou clara nas posições do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), que discordava de uma manifestação formal de protesto contra Bolsonaro, e do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que adotou um tom mais dur.

"O que temos o dever de fazer é defender a democracia, Moisés. E não silenciar diante das ameaças que estamos sofrendo constantemente", disse Doria. "O País sofre uma ameaça constante em relação à democracia. Basta observar as manifestações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, que flerta com o autoritarismo permanentemente e muitos dos seus ministros endossam isso. Isso afronta os princípios da liberdade, os princípios das instituições, os princípios da democracia e daquilo que nós defendemos e eu sei que você também defende", acrescentou o governador tucano.

Doria ainda demonstrou preocupação com as manifestações de Sete de Setembro, que têm mobilizado os seguidores de Bolsonaro, incluindo setores da Polícia Militar.

"Se já não bastassem as ameaças cada vez mais crescentes nas últimas semanas, teremos nesse mês de setembro manifestações. Não apenas do direito de se manifestar contra ou a favor, mas manifestações ruidosas para colocar em risco a democracia. Caminhoneiros que estão sendo organizados por milícias bolsonaristas para fechar estradas, fechar acesso às estradas. O estímulo pelas redes sociais para que militantes do movimento utilizem armas e saiam às ruas armados. Isso não é defender a democracia. Isso não é estabelecer o diálogo, isso não é respeitar o entendimento, isso é desrespeitar o País e desrespeitar a vida", reclamou Doria. "Quero enfatizar que nós estamos diante de um momento gravíssimo da vida nacional. Não é o momento de nos silenciarmos, repito, e nem de ficarmos na retaguarda", acrescentou.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), também concordou com essa visão. "Além de ameaçar a democracia, é uma tragédia para a renda e para os investimentos", disse. "É notória a repercussão desse comportamento do presidente para os investimentos no Brasil. E o grande prejuízo que isso trouxe para a economia dos Estados. Sem falar na sua postura autoritária de perseguir os Estados e de jogar no colo dos governadores os efeitos nefastos dessa política econômica federal", criticou.
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Nas redes sociais, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), fez um balanço do encontro e reforçou a necessidade de que autoridades se posicionem contra as agressões do presidente "à democracia, ao meio ambiente e à economia".

O dirigente estadual comentou que Bolsonaro ataca "todos os espaços de contestação", como a imprensa e os Poderes Legislativo e Judiciário. "Democracia não é apenas a oportunidade da eleição de um governo, é também a necessidade de que os governantes eleitos saibam conviver com a contestação", afirmou. "Infelizmente, o atual presidente parece não saber disso", publicou.

Na avaliação de Leite, o Brasil vive um momento crítico, que exige o posicionamento dos chefes dos Executivos estaduais. "Temos uma responsabilidade como governadores para além das nossas próprias populações dos Estados, para com a Federação, que é a soma dos nossos Estados. É algo que se impõe neste momento crítico que estamos vivendo da história nacional", afirmou.

De acordo com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), houve uma "preocupação geral" na reunião com as agressões e conflitos em série que ocorrem no Brasil nas últimas semanas. O consenso, para os governadores, foi a defesa da gestão democrática. "A democracia deve prevalecer e as polícias não serão usadas em golpes."

Rival de Leite nas prévias do PSDB, o governador de São Paulo, João Doria, também se manifestou nas redes sociais e pediu para o governo federal "parar de sabotar" o Brasil. "O resultado dessa gestão está aí: inflação nas alturas, disparada do desemprego, aumento no preço dos alimentos e combustíveis, crescimento da miséria, desconfiança internacional e irresponsabilidade fiscal", afirmou. "O Brasil não merece isso", emendou.

Ações climáticas

Além do debate sobre os ataques às instituições, estava na pauta do encontro a criação de um consórcio único de Estados, com fundo único, para propor ações climáticas. Doria aprovou a iniciativa e propôs que o consórcio seja batizado de "Brasil Verde". Diante do foco ambiental, o governador do Amapá, Waldez Goés (PDT), destacou que a reunião foi apenas mais um passo para reforçar ainda mais o diálogo entre os Estados brasileiros e a comunidade internacional. "Integrados e unidos, estaremos mais fortalecidos para dialogar com a comunidade internacional sobre as questões ambientais", declarou Góes no Twitter.

O encontro dos governadores sobre o tema não estava marcado, mas, diante dos últimos ataques do presidente Bolsonaro contra as instituições, Doria e o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), propuseram a reunião.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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