Sócio da Belcher Farmacêutica, Emanuel Catori prestou depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feiraEdilson Rodrigues/Agência Senado
Publicado 24/08/2021 17:39 | Atualizado 24/08/2021 18:26
Brasília - A CPI da Covid encerrou na tarde desta terça-feira, 24, a reunião em que ouviu o empresário Emanuel Catori, sócio da Belcher Farmacêutica, que representou por alguns meses o laboratório chinês CanSino para venda da vacina Convidencia ao governo federal. Catori foi convocado a depor em razão das ligações entre a Belcher e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), que é formalmente investigado pela comissão pelo suposto envolvimento em negociações de imunizantes.

Durante a oitiva, Catori negou que tenha tratado com Barros sobre a proposta de venda do imunizante da CanSino, mas admitiu que mantém uma relação com o líder do governo, com quem teria conversas periódicas. A CPI da Covid confrontou o empresário com informações que levantam suspeitas sobre a atuação da empresa ao negociar com o Ministério da Saúde.

A Belcher atuou na tentativa de vender 60 milhões de doses da Convidecia, produzida pelo laboratório chinês CanSino, ao Ministério da Saúde, mas o negócio não foi fechado. A CanSino revogou unilateralmente as credenciais da Belcher para representar o laboratório no país por razões de compliance, e hoje a farmacêutica brasileira avalia se irá judicializar contra a iniciativa do grupo asiático. Essa medida em estudo foi uma das justificativas dadas por Catori para não abrir detalhes da relação da Belcher com a CanSino, entre eles a forma como seria remunerada caso o negócio com o governo tivesse sido efetivado.

Durante o depoimento na comissão, Catori não quis revelar os termos da negociação com a CanSino, evocando o direito ao silêncio decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O vice-presidente de Negócios Internacionais da empresa chinesa, Pierre Morgon, afirmou ao jornal Valor Econômico que a empresa de Catori tentou negociar uma comissão para intermediar a negociação.

A fabricante rompeu os contatos alegando uma série de "delitos" da Belcher, investigada em uma operação no Distrito Federal. Após os senadores apontarem contradição entre o depoimento e a afirmação do laboratório chinês, Catori insistiu no silêncio sobre o valor "comissionamento", mas admitiu a tentativa. "Claramente eu estaria ganhando uma comissão na questão da venda Eu não estaria trabalhando de graça", disse.

A negociação do governo com a Belcher segue o mesmo roteiro observado em outras duas vacinas na mira da CPI, a Covaxin e a Sputnik V: vacinas mais caras produzidas por laboratórios internacionais e negociadas por meio de intermediários no Brasil, com elos com Ricardo Barros. E isso após o governo Bolsonaro adotar uma postura mais fechada com outros agentes, como a Pfizer e o Butantan.

A palavra "comissionamento" chamou atenção dos parlamentares. Os senadores lembraram imediatamente da atuação de representantes da Davati, que ofereceram vacinas sem comprovar a capacidade de doses e acusaram o governo de pedir propina. "Mais uma semelhança com o Dominghetti, uma comissão por dose", disse o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).


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