Publicado 31/08/2021 14:36 | Atualizado 31/08/2021 17:23
A CPI da Covid aprovou nesta terça-feira, 31, o requerimento para ouvir a advogada Karina Kufa, que defende o presidente Jair Bolsonaro em ações na Justiça Eleitoral. Os senadores apontam que ela foi responsável por organizar um jantar em sua residência, onde se conheceram o lobista Marconny Faria e ex-secretário-executivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), José Ricardo Santana. Parlamentares apontam que os dois teriam atuado como lobistas da Precisa Medicamentos e se ela pode ter sido beneficiada fazendo essa intermediação.
A advogada não negou a realização do jantar e afirmou que não havia qualquer irregularidade no encontro. “Fazer churrasco não é crime; conhecer pessoas não é crime”, disse Kufa.
Marconny Faria é apontado pela comissão como um "lobista" que tentaria privilegiar a Precisa Medicamentos junto a pasta. Já José Ricardo Santana, que depôs na CPI na última quinta-feira, 26, também teria trabalhado com o Ministério da Saúde na intermediação de negócios da Precisa.
Com sua saída da Anvisa, Santana foi convidado para fazer parte da equipe do Ministério da Saúde pelo ex-diretor de logística da pasta, Roberto Ferreira Dias. Os senadores reforçaram a tese de que ele era um lobista dentro da pasta. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apontou que, pelas informações da CPI, Santana conheceu o lobista Marconny, com quem fala em áudio divulgado pela comissão, na casa da advogada do presidente Bolsonaro, em 25 de maio do ano passado.
Menos de 20 dias depois, ele mandou o primeiro áudio para o lobista. Santana admitiu conhecer Karina e Marconny, mas disse não se recordar das circunstâncias em que foi apresentado a ele e não se lembrar também de quem mais estava na casa da advogada.
"Marconny, foi um prazer te conhecer hoje na casa da Karina. Aliás, ela me passou seu telefone. Obrigado pelo bate-papo agradável. Se eu puder te ajudar em algo, conte comigo. Boa noite", afirmou Santana no áudio apresentado na CPI.
Santana afirmou que não se lembra onde conheceu o Marconny. Os senadores também perguntaram se Jair Renan, conhecido como o "filho 04" de Jair Bolsonaro, estava nesse jantar, mas ele também disse que não se lembrava.
As mensagens indicam ainda que Marconny e Santana discutiram formas de fraudar uma licitação de testes para a Covid-19 e beneficiar a Precisa Medicamentos. A CPI afirma que as informações seriam repassadas para Dias.
Motoboy da VTCLog será reconvocado
Durante a sessão, também foi aprovada uma nova convocação do motoboy Ivanildo Gonçalves, que teria feito saques suspeitos no valor de R$ 4,7 milhões serviço da VTCLog, empresa de logística investigada pela Comissão. Foram pedidas quebras de sigilos telefônicos, fiscal, bancário e telemático de nomes ligados à empresa.
O depoimento do motoboy estava previsto para esta terça, mas, um dia antes, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nunes Marques, garantiu a Ivanildo o direito de não comparecer à comissão.
Quebra de sigilo da VTCLog
A Comissão vai aprofundar as investigações sobre a empresa, selecionada pelo Ministério da Saúde para cuidar da armazenagem e distribuição de medicamentos. O anúncio foi feito pelo presidente, Omar Aziz (PSD-AM), na reunião desta terça-feira (31). Foram aprovadas na sessão, a reconvocação do motoboy e a transferência de sigilos fiscal, telemático e bancário da VTCLog.
"Agora a CPI irá focar no depoimento de todas as pessoas da VTCLog. Todas, sem exceção. Nós iremos a fundo na VTCLog até a CPI concluir essa questão", disse Aziz.
Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou que a empresa movimentou R$ 117 milhões de forma suspeita nos últimos dois anos. Para o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), o depoimento de Ivanildo é fundamental no trabalho de investigação da comissão parlamentar de inquérito.
Durante a reunião, Renan afirmou que novas informações apontam que Ivanildo pagava boletos de Dias. As imagens de onde foram feitos os pagamentos foram requeridas pela CPI e exibidas durante a sessão. "Se isso não for prova suficiente para que o ministro reconsidere sua decisão, nada mais é", disse Randolfe.
Calheiros também reforçou que o motoboy não é responsável por crime. Senadores também aguardam resposta da Polícia Federal sobre pedido de proteção policial para o motoboy. "Ele não cometeu crime. Ele cumpriu uma ordem", afirmou o relator.
Randolfe defendeu ouvir outros nomes ligados à VTCLog. De acordo com ele, também causou espantou o fato de o motoboy, que recebe cerca de R$ 2 mil, ter sido defendido por uma banca de advogados considerada "cara". De acordo com os senadores, o advogado Alan Diniz Moreira Guedes de Ornelas teria trabalhado na defesa de Fabrício Queiroz e de Adriano da Nóbrega, miliciano morto em fevereiro do ano passado.
Senadores também lamentaram a ausência da diretora-presidente da VTCLog, Andréia Lima, que afirmou estar “à disposição para contribuir com os trabalhos da CPI”, mas apontou que não poderia comparecer nesta terça, 31, "devido à agenda prévia de viagem relacionada à logística de distribuição das vacinas".
"Se Andréia quisesse mesmo comparecer, ela teria vindo de São Paulo para Brasília. Amanhã não vou me surpreender se ela também entrar na Justiça para não vir aqui falar", afirmou Aziz.
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