Advogada Bruna Morato, representante de ex-médicos da rede de hospitais da Prevent Senior presta depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira, 28Divulgação
Publicado 28/09/2021 13:45 | Atualizado 28/09/2021 16:44
Brasília - Durante seu depoimento à CPI da Covid, a advogada Bruna Morato afirmou que um dos diretores da Prevent Senior, identificado como Felipe Cavalca, encaminhou mensagens em grupos de WhatsApp orientando médicos da operadora a não informar a pacientes e familiares sobre o tratamento com o "Kit Covid". Além disso, a depoente também afirmou que o plano utilizou o tratamento precoce como forma de evitar a internação de pacientes e, assim, reduzir custos com leitos de UTI.
"Não é nem uma questão interpretativa. É uma constatação. As mensagens de texto disponibilizadas à CPI mostram que a Prevent Senior não tinha a quantidade de leitos necessários de UTI e, por isso, orientava o 'tratamento precoce'. Era uma estratégia para a redução de custos, uma vez que é muito mais barato para a operadora de saúde disponibilizar do que efetivamente fazer a internação daqueles pacientes”, disse Morato.
Confira:
Questionada por Renan Calheiros (MDB-AL) sobre a prescrição indiscriminada de medicamentos, Bruna Morato disse que houve uma intenção inicial da operadora de “acompanhamento mais completo” dos pacientes pelo médico. No entanto, segundo ela, a demanda era tão alta que a Prevent passou a deixar de orientar o acompanhamento para fazer a prescrição da medicação sem eficácia comprovada.
De acordo com a advogada, o protocolo não orientava pedidos de eletrocardiograma, de tomografia e até mesmo do exame de diagnóstico de covid-19, o PCR.

Além disso, segundo a advogada, o termo de consentimento para a realização do tratamento precoce não era posto como tal, portanto, os pacientes apenas assinavam na hora da retirada dos Kit Covid, sem terem ciência do estudo ou dos riscos do tratamento. O termo de consentimento, disse ainda, era genérico e não aprofundava informações.
“O paciente idoso é extremamente vulnerável. Eles não sabiam que seriam feitos de cobaia. Eles sabiam que iriam receber medicamentos. Isso são coisas diferentes. Quando chegava para retirar o medicamento, era passada a seguinte informação: “para retirar essa medicação, o senhor precisa assinar aqui”. Eles não tinham ciência de que esse “assina aqui” era o termo de consentimento”, afirmou.

Posteriormente, o senador Omar Aziz (PSD-AM) questionou se, em algum momento, os médicos denunciaram a operadora ao Conselho Regional de Medicina e ao Conselho Nacional de Medicina. Em resposta, a advogada afirmou que os conselhos não aceitam denúncias anônimas, e os profissionais de saúde trabalhavam em uma empresa cuja política era de coerção. “Se essa denúncia tivesse sido feita antes, vidas teriam sido poupadas”, pontuou Aziz.

Na sequência, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que os médicos deveriam depor no lugar da advogada, porque as denúncias se assemelham a "uma disputa trabalhista". Os senadores Omar Aziz, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Calheiros protestaram contra a fala do parlamentar.
O 'Kit Covid'
Calheiros (MDB-AL) perguntou se a Prevent Senior obteve autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para realizar pesquisa com hidroxicloroquina. Segundo a testemunha, apesquisa teve inicio em 26 de março, mas o pedido de autorização só foi feito em 4 de abril. Em poucos dias, segundo ela, eles apresentaram estudo prévio com determinadas informações, e um dos motivos da suspensão do estudo foi o fato de eles já terem os dados pré-prontos.

Bruna afirmou aos senadores que o "Kit Covid" inicialmente era composto por dois medicamentos (hidroxicloroquina e azitromicina). Após a pesquisa ser suspensa pela Conep, itens foram acrescentados ao longo do tempo, até chegar a um conjunto de oito medicamentos, incluindo vitaminas e suplementos proteicos.

O Otto Alencar (PSD-BA) questionou a depoente  acerca do uso de um remédio para câncer de próstata (flutamida) no tratamento da covid-19. Em resposta, a advogada esclareceu que esse medicamento não estava no "Kit", mas era administrado para todos os pacientes internados por coronavírus.

“Medicamentos como a flutamida ou o que eles chamavam de tratamentos via nanopartículas também foram usados de forma experimental”, disse a advogada.

Ainda segundo Bruna, o objetivo da Prevent Senior e de seus aliados no governo, com o estudo em massa da hidroxicloroquina, era passar a impressão de que, caso as pessoas adoecessem, haveria um tratamento eficaz.

“Eles denominavam isso golden day ['dia de ouro', em inglês]: no segundo dia de sintomas, as pessoas teriam que tomar o kit e, supostamente, estariam salvas de qualquer complicação”, relatou.
Acompanhe ao vivo:
*Com informações da Agência Senado
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