CPI da Covid realiza oitiva de empresário Luciano Hang, acusado de pertencer ao chamado "gabinete paralelo"Leopoldo Silva/Agência Senado
Publicado 29/09/2021 14:14 | Atualizado 29/09/2021 16:59
Brasília - Após o retorno da inquirição, o empresário Luciano Hang afirmou que sua mãe, Regina Hang, vítima de covid-19, foi submetida ao tratamento precoce ao ser diagnosticada com o vírus. Em vídeo exibido na CPI, no entanto, Hang aparece afirmando que, caso sua mãe tivesse feito o “tratamento preventivo”, ela poderia ter sido salva. Aos senadores, o empresário afirma que há diferença entre “preventivo” e “precoce”.

“Preventivo é antes de ter o vírus. Depois que descobriu o vírus, vira precoce”, disse o depoente. Senadores questionaram a afirmação. Confira:
O empresário afirmou, ainda, que sua mãe foi diagnosticada com covid-19 no dia 28 de dezembro de 2020 e, até dia 1º de janeiro de 2021, recebeu o “tratamento precoce/inicial”. Como a situação da paciente, que tinha comorbidades, piorou e chegou a ficar com 95% do pulmão comprometido, ele decidiu pela internação na Prevent Senior após recomendações de amigos.
Ao responder sobre a omissão da covid-19 no atestado de óbito da mãe, um dos temas mais esperados pelos senadores, Luciano Hang apresentou à CPI documento emitido pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar constando que ela foi internada em 1º de janeiro com covid-19 e saiu em 3 de fevereiro também com covid-19. Assista:
Segundo o empresário, o atestado de óbito foi preenchido por um plantonista e no dia seguinte foi corrigido. Segundo o relator, a ocultação da doença entre as causas da morte de Regina Hang foi para não prejudicar a Prevent Senior, que fazia experiências com o "tratamento precoce".

"Não vejo o interesse do hospital de mentir sobre a morte de minha mãe. Qual era o motivo, se eu já havia dito publicamente que era estava internada e estava com covid? Ainda fiz uma live explicando e lamentando o fato de ela não ter feito o tratamento preventivo", alegou Hang.
Durante seu depoimento, ele também afirmou que a Havan investe, por ano, R$ 250 milhões em propaganda. Segundo o depoente, os investimentos são direcionados pelo próprio Google e que a plataforma teria a autonomia “de colocar a propaganda onde ela quiser”. Mais tarde, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE)
“O que faltou perguntar para ele, é se ele faz a seleção dos sites que receberão os recursos”. “É automático”, disse Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Em resposta, Alessandro disse que “seria bem interessante se aprendesse a fazer as coisas. Cabe fazer a seleção e excluir discurso de ódio, desinformação”.

Segundo o relator Renan Calheiros (MDB-AL), “a resposta está implícita”. “Na hora que ele respondeu que faz [propaganda], ele incluiu todas as possibilidades”, complementou. Um dos motivos para a oitiva do empresário é a suspeita de ter financiado notícias falsas sobre supostos tratamentos ineficazes contra a covid-19.

Em continuidade ao assunto anterior à suspensão, Hang reiterou que sua rede de lojas já requisitou linha de crédito subsidiada junto ao BNDES para compra de máquinas. Segundo o depoente, a Havan pode ter recebido subsídios da União ou de governos estaduais e municipais, mas que não era possível especificar devido ao número de filiais espalhadas pelo país. 
Calheiros, em um determinado momento, chegou a se irritar com o empresário, por falta de uma resposta objetiva sobre a questão do financiamento. Veja:
Aziz interveio para informar sobre o recebimento de um documento do próprio BNDES que confirma a concessão de financiamento ao empresário no valor de R$ 27 milhões.
Retorno da sessão

Após o retorno da sessão, o advogado do empresário Luciano Hang, Murilo Varasquim, se desculpou com o senador Rogério Carvalho (PT-SE), devido a uma discussão que ocorreu antes da suspensão. O parlamentar havia se sentido ofendido por Varasquim, culminando na expulsão do advogado, conforme determinado pelo senador Omar Aziz (PSD-AM).

“Peço desculpas. Creio que tenha havido um mal-entendido. Jamais houve intenção desta defesa em lhe ofender. Em razão disso, peço reconsideração da minha retirada da sessão. Pretendo continuar na defesa e mais uma vez peço desculpas”, disse Varasquim

Aziz reconsiderou a decisão e manteve os dois advogados de Luciano Hang na sala. No entanto, avisou que, caso volte a interferir indevidamente no pronunciamento dos parlamentares, o defensor será novamente retirado do depoimento.
'Resposta esfarrapada'
Para o presidente da comissão, Omar Aziz, a explicação de Luciano Hang para o episódio das algemas é uma “resposta esfarrapada”. Antes do depoimento, o empresário publicou um vídeo na internet ostentando algemas e dizendo que elas seriam usadas por ele, caso recebesse voz de prisão na CPI. Questionado por Renan Calheiros, Hang disse que o Brasil precisa ter mais senso de humor.

"Nós brasileiros estamos com o elástico muito esticado. Nós precisamos ter bom humor. Daqui a pouco, não vai ter nem mais programa de humor. É uma forma de eu me comunicar com o povo. Não quis de forma nenhuma afrontar esta Casa e seus senadores", afirmou.

Omar, por sua vez, rebateu. O presidente da CPI lembrou que perdeu um irmão para a pandemia de coronavírus e que a mãe do próprio Luciano Hang, Regina Hang, também foi vítima da covid-19.

"Essa sua resposta é muito esfarrapada. Estamos tratando de mais de 600 mil vidas, inclusive meu irmão e sua genitora. O senhor vai fazer uma brincadeira dessas nessa hora? Parentes, pais, mães e crianças órfãs, que estão ao deus-dará. O senhor acha que tem condição de brincar com isso? Isso é um desrespeito. Se o senhor não respeita sua dor, respeite pelo menos a dor dos outros", disse Aziz.
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