Ex-médico da Prevent depõe à CPI nesta quinta-feira, 7Pedro França / Agência Senado
Publicado 07/10/2021 13:22 | Atualizado 07/10/2021 14:02
Brasília - A CPI da Covid ouve nesta quinta-feira, 7, Walter Correa de Souza Netto, ex-médico da Prevent Senior, e Tadeu Frederico Andrade, beneficiário da operadora. Durante a inquirição, Walter afirmou que a lógica de priorizar a redução de custos em detrimento do bem-estar de pacientes é algo anterior à pandemia. Além disso, o depoente afirmou que, em alguns casos, um pequeno número de médicos, muitas vezes envolvidos com a direção da operadora, acaba induzindo outros médicos ao erro.

“Eu já tinha uma inadequação com isso lá, pela imposição de não ter autonomia médica, não poder pedir determinado exame. Às vezes, você tinha que negociar com quem era seu superior para fazer determinada coisa e aquilo não era autorizado. Às vezes, o paciente evoluía com gravidade ao óbito. Isso era uma política antiga da empresa”, disse. Confira:
O depoente também disse aos senadores que a Prevent Senior tinha um ambiente de trabalho hostil, com clima de "lealdade e obediência". Segundo ele, o termo não era mais utilizado devido a implicações judiciais, mas a cultura permaneceu.

“Fui bombeiro militar e policial civil e não havia hierarquia tão rígida como o que acontecia na Prevent Senior. Era muitas vezes uma hierarquia baseada em assédio moral. Então, você se voltar contra qualquer orientação do seu superior, resultaria em represálias importantes, talvez perder seu trabalho. Vivíamos em um ambiente em que todas as pessoas ficavam receosas de contrariar qualquer orientação”, relatou. Assista:

Walter também falou sobre o estudo realizado pela operadora. Segundo o depoente, os médicos da Prevent sabiam que o tratamento de pacientes da covid-19 com hidroxicloroquina não trazia os resultados prometidos e divulgados pela direção da operadora de saúde. No entanto, a promoção do medicamento feita pela operadora acabava induzindo muitos médicos ao erro.

Além disso, Walter confirmou que, no início da pandemia, a Prevent chegou a proibir médicos da operadora de utilizarem máscaras para não “assustar os pacientes”. Segundo o depoente, em uma ocasião, a Dra. Paola pediu para que ele removesse o equipamento. Veja:
Paola foi a mesma que havia dito "prescreva cloroquina pra quem espirrar. Espirrou, dá cloroquina nele", numa troca de mensagens apresentada à CPI pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) na reunião desta quarta-feira, 6.
Atendimento na Prevent

O depoente também denunciou o modelo de atendimento do plano de saúde. É "absolutamente inadequado, talvez em alguns momentos até criminoso”, disse. Segundo ele, o atendimento era feito por enfermeiros, que tinham acesso ao sistema de prontuários através do login e senha dos médicos da operadora.

A imposição da empresa pela agilidade induzia os médicos às vezes a simplesmente deixar o atendimento a cargo do enfermeiro e ficar rodando os consultórios para carimbar e assinar. Alguns colegas chegavam ao absurdo de fazer carimbos extras e deixar com os enfermeiros para que eles já fossem assinando e carimbando”, contou. “Os pacientes que estavam nesse modelo de acolhimento só iam passando pelos enfermeiros que já estavam com o kit pronto”, completou.
Anteriormente, Walter também falou que havia uma contagem de kits na operadora, então eles sabiam quando os médicos deixavam de prescrever. "Foram poucos que se atreveram a não prescrever (...) Você orientava expressamente para não tomar, mas entregava", disse.
 
Anthony Wong e Luciana Hang

O ex-funcionário da Prevent afirmou aos senadores que o motivo da morte de Anthony Wong foi de fato omitido. Segundo o depoente, seria ruim para a política da empresa que todos soubessem que Wong morreu de covid-19 tendo feito tratamento precoce, “não só uma, mas duas vezes”. Anthony era médico, toxicologista e grande defensor do tratamento precoce.

Em resposta a Renan Calheiros (MDB-AL), Walter também disse que não sabe a razão de não constar covid-19 no atestado de óbito de Regina Hang. Ela era mãe do empresário Luciano Hang e ficou internada no hospital Sancta Maggiore, da rede Prevent Senior.
O depoente também falou sobre o áudio exibido na CPI sobre as ameaças que recebeu do diretor da Prevent Senior, Pedro Batista Jr., em ligação.
"Ele fala que vai acabar com a minha carreira profissional. Inclusive, estava espalhando na Prevent, para colocar medo em outros médicos que, se alguém tentasse fazer como eu, ia perder o CRM", disse. Confira:
Declarações de Bolsonaro

O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), também exibiu um compilado de vídeos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendendo o uso do ‘kit covid’ e questionou o depoente sobre a influência das declarações. Em resposta, Walter concordou.

“Pode induzir as pessoas ao erro. É uma desinformação que pode fazer com que as pessoas deixem de tomar outras medidas. Acreditando que há um tratamento inicial eficaz, podem deixar de se proteger, evitar vacinas e outras condições que podem acabar levando a pessoa ao óbito”, disse.

Mais tarde, o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM) mencionou uma publicação de Bolsonaro, no dia 18 de abril, na qual ele afirma que não tinha havido nenhum óbito em estudo da Prevent com o uso da hidroxicloroquina. A publicação foi desmentida pelo médico Walter Correa. O relator classificou a informação como mais uma fake news do chefe do Executivo.
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