Publicado 28/10/2021 13:33 | Atualizado 28/10/2021 14:02
Rio - O ex-deputado federal Roberto Jefferson escreveu uma carta com duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) sobre o que ele chama de "vício nas facilidades do dinheiro público". Durante o texto, escrito em sua cela no complexo penitenciário de Bangu, na Zona Oeste da cidade, Jefferson também afirmou que ao se aproximar de Ciro Nogueira e Valdemar da Costa Neto, políticos do centrão, Bolsonaro se tornou um "viciado", assim como eles: "Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio". As informações são do Jornal O Globo.
"O presidente tentou uma convivência impossível entre o bem e o mal. Acreditou nas facilidades do dinheiro público. Esse vício é pior que o vício em êxtase. Quem faz sexo com êxtase tem o maior orgasmo ou ejaculação que o corpo humano de Deus pode proporcionar. Gozou com êxtase, para sempre dependente dele. Desfrutou do prazer decorrente do dinheiro público, ganho com facilidade, nunca mais se abdica desse gozo paroxístico que ele proporpciona. Bolsonaro cercou-se com viciados em êxtase com dinheiro público; Farias, Valdemar, Ciro Nogueira, não voltará aos trilhos da austeridade de comportamento. Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio", disse Jefferson em um trecho da carta.
O ex-deputado federal defendeu uma candidatura própria do PTB para o pleIto presidencial de 2022, além de um convite direto ao vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB).
"Vamos convidar o Mourão. O PTB terá candidatura própria, quem sabe apoiamos o Bolsonaro no segundo turno", escreveu ele.
Em diversas oportunidades, Jefferson, quando ainda exercia a presidência do PTB, chegou a convidar Bolsonaro publicamente para ingressar no partido, mas as negociações não avançaram. Atualmente, o presidente negocia com PL e PP, dois partidos do Centrão comandados respectivamente por Ciro Nogueira e Valdemar da Costa Neto.
Jefferson saiu em defesa dos atos antidemocráticos de 7 de Setembro e afirmou que o presidente "fraquejou" ao não avançar nas demandas do "povo que foi às ruas". Na ocasião, os manifestantes fizeram pedidos inconstitucionais, como o de intervenção militar e a destituição dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Todo o povo saiu às ruas para dizer, eu autorizo, não havia volta, não havia transigência com as velhas práticas. Mas por algum motivo, Bolsonaro fraquejou. Não teve como seguir. Escrevo isso insone. Não preguei meus olhos. Esse pensamento queimou minhas pestanas, não consegui fechar meus olhos e dormir. Vamos por nós mesmos", escreveu Jefferson.
Jefferson retornou para a prisão na quinta-feira, 14, após determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, depois que o político recebeu alta hospitalar. Ele estava internado desde o início de setembro por conta de uma infecção urinária, além de dores na lombar. O ex-deputado também foi submetido a um cateterismo para desobstrução de uma artéria.
No último domingo, 24, Roberto Jefferson precisou ser internado no hospital do complexo de Bangu 8 por conta de complicações em seu estado de saúde. Foram relatados sintomas de febre alta, taquicardia e baixa pressão.
Presidente do PTB reclama de 'abandono' de Bolsonaro
A presidente em exercício do PTB, Graciela Nienov, tentou amenizar o conteúdo da carta interna de Roberto Jefferson. Nienov afirmou que o presidente licenciado do partido fez apenas um "desabafo". Ela também admitiu que há no partido uma "revolta" com o abandono de Bolsonaro com o PTB.
"Há revolta! Eu também estou revoltada com o abandono do nosso presidente, confesso. Tentamos marcar agenda com ele, que não aceitou. Não quis nos receber no Palácio. E você vê teu líder (Jefferson) preso, em nome das liberdades, e acontece isso", afirmou ela na mensagem divulgada pelo partido.
A presidente em exercício do PTB também disse estar um "pouco triste" com a posição de Bolsonaro de se aproximar do PP e do PL
"O presidente não pode ir para o PP, metade (do PP) é de esquerda. O Nordeste todo está fechado com o PP. Gente, o PL tem um presidente (Valdemar da Costa Neto) que foi envolvido no mensalão, numa organização criminosa. Como um homem de bem pode ir para esses partidos?", disse Nienov.
Ela afirmou ainda que entende a "mágoa" de Jefferson por ver Bolsonaro se aproximar desses partidos, que acirraram a disputa para filiar o presidente. O chefe do Executivo dá sinais trocados para as duas legendas e tem adiado a decisão até encontrar a configuração nos estados que mais lhe agrada.
"Entendo também a mágoa do Roberto, que está há 70 dias dentro de uma prisão. Sua cabeça está perfeita, sua mente está perfeita, mas seu corpo já não é mais o mesmo. Ele está doente, e ninguém faz nada. Além de ele estar doente, ele vê o líder em que ele acreditou indo para partidos que fazem parte de um sistema", afirmou.
Nienov destacou que o PTB se organizou para se alinhar ao presidente da República, sendo completamente de direita e afirmou que Jefferson, antes de ser preso, pediu que ela se mantivesse ao lado de Bolsonaro. E afirmou que é hora de permanecer em silêncio.
"O desabafo dele foi o seguinte: 'Nós sabemos que o Bolsonaro é um homem de bem. Estamos juntos com Bolsonaro sem cargo, sem nenhum ministério, sem nada. Estamos juntos porque acreditamos que o nosso presidente não rouba e não deixa roubar. É isso que ele sempre tem falado", concluiu.
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