Especialistas reforçam a importância da vacinação no combate ao coronavírusDivulgação
Publicado 01/11/2021 08:00
Rio - A vacinação contra a covid-19 já apresenta efeitos positivos, reduzindo o número de internações e mortes provocadas pelo vírus. Isso mostra que os imunizantes estão cumprindo o seu propósito de evitar os casos graves da doença. No entanto, apesar da importância da imunização no combate ao coronavírus, ainda surgem notícias falsas contra as vacinas que viralizam com rapidez nas redes sociais. Pensando nisso, O DIA conversou com especialistas em Saúde que tiraram dúvidas sobre a vacinação.

O Ministério da Saúde informou que, até a última sexta-feira, 29, distribuiu mais de 334 milhões de vacinas contra a covid-19. Segundo a pasta, mais de 154 milhões de pessoas tomaram a primeira dose - o que representa 87% da parcela da população-alvo (177 milhões). Mais de 119,2 milhões de pessoas (67,3%) completaram o esquema vacinal, ou seja, receberam as duas doses ou a dose única do imunizante.

Pesquisadora em Saúde e membro do Comitê de Combate ao Coronavírus da UFRJ, Chrystina Barros reforçou que as vacinas mudaram o perfil de mortalidade da História mundial, o que possibilitou também um aumento da expectativa de vida da população. Para quem desconfia dos imunizantes contra o coronavírus, porque ficaram prontos em tempo recorde, a especialista enfatizou que a rapidez na criação do fármaco ocorreu por conta da experiência anterior acumulada no desenvolvimento de vacinas e pelo investimento do mundo inteiro, que buscava uma solução ao mesmo tempo. “São seguras, eficazes e estão mudando a nossa realidade, resgatando a nossa normalidade”, afirmou Barros.

Vale lembrar que a vacina não vai garantir imunidade ao vírus. Isso significa que não impede que a pessoa se contamine com a covid-19, mas vai ajudar na produção de anticorpos. Sendo assim, o fármaco tende a prevenir os casos graves da infecção causada pelo coronavírus. Segundo Barros, após o esquema vacinal completo, os vacinados desenvolvem uma capacidade de resposta imunológica para que o corpo se defenda de um possível contato com o vírus.

“Todos os estudos feitos com as vacinas que nós temos dão conta que elas evitam as formas graves e os casos de óbitos, principalmente. Mas, de qualquer forma, as pessoas continuam, em alguma medida, vulneráveis a se contaminarem e a terem formas leves”, explicou a pesquisadora, acrescentando que não existe imunidade completa e absoluta.
A médica geriatra e psiquiatra Roberta França afirmou que o imunizante não provoca ou transmite nenhum tipo de doença. “A vacina foi feita para fazer com que o seu sistema imunológico reconheça o vírus e responda a ele, levando você a ter uma proteção contra a doença. É por isso que, no momento em que a população foi efetivamente vacinada, os índices, não só de casos, como também de óbitos, diminuíram de forma dramática”.
Atualmente, o município do Rio apresenta o melhor cenário epidemiológico desde o início da pandemia, com risco baixo para a doença em toda a cidade pela primeira vez, de acordo com o 43º Boletim Epidemiológico da cidade. O Rio registrou, nesta sexta-feira, 151 pacientes internados com a covid-19, o que representa 2,4% do total da ocupação de leitos, o menor número desde o primeiro mês da pandemia. 
Vacina não causa aids
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez uma declaração falsa durante a sua live semanal na quinta-feira retrasada, associando o imunizante contra a covid-19 com o desenvolvimento do vírus da aids. "Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida muito mais rápido do que o previsto", declarou o mandatário de forma equivocada.

Devido à fake news divulgada pelo chefe do Executivo, o Comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou uma nota, esclarecendo que “não se conhece nenhuma relação” entre qualquer imunizante contra o coronavírus e o desenvolvimento da aids. “Repudiamos toda e qualquer notícia falsa que circule e faça menção a esta associação inexistente”, reiterou a entidade em comunicado.

Para a pesquisadora em Saúde, é um “absurdo completo” pensar que a declaração mentirosa foi dada por um líder eleito, “pensar que o que esse líder fala tem grande repercussão, inspira muitas pessoas”. Ela acrescentou: “Isso é muito triste. É um grande desserviço para a humanidade, para o nosso país e para toda a nossa ciência. Infelizmente, nos envergonha termos na presidência da República alguém que manifesta com esse tipo de notícia que não tem nenhum fundamento e gera pânico”.
Já a médica Roberta França considera “inacreditável” relacionar o fármaco contra o coronavírus com a aids. “A aids é uma doença sexualmente transmissível, que você pega através de relação sexual sem proteção ou uso compartilhado de agulhas na utilização de drogas injetáveis. Essas são as únicas formas de você adquirir o HIV. Não existe como adquirir através de uma vacinação”, disse a médica.
Perguntas e respostas sobre o imunizante:
- A vacina implanta chip, provoca aborto ou muda o DNA?
Não. De acordo com a médica Roberta França, o fármaco contra o coronavírus não implanta chip, não causa aborto, não muda o DNA, não gera doenças graves nem HIV. Ela esclareceu que qualquer outro tipo de  imunizante, por exemplo, contra gripe, sarampo ou hepatite, pode provocar reação: “Normalmente, são reações leves e brandas que tendem a passar em 48 horas, como dor local, febre, dor no corpo, mal-estar, vômito e diarreia, em alguns casos mais raros”. 

- Quem se infectou com a covid-19 não deve tomar a vacina?
Não. A médica destacou que quem já teve covid-19 precisa se vacinar contra a doença. Segundo ela, as pesquisas indicam que a imunidade de pessoas que já contraíram o coronavírus não dura por muito tempo. “Os estudos mostram que uma pessoa que adquiriu covid-19, depois de cerca de nove meses, pode não apresentar mais os anticorpos de combate à covid. Então, daí a importância da vacinação para que novos anticorpos sejam formados e que essa pessoa mantenha o seu sistema imunológico ativo contra o vírus”.

- Tomei a vacina e não tive reação. Quer dizer que não funcionou?
Não. “O fato de você não ter reação não significa que você não teve uma resposta vacinal, porque nem todas as pessoas terão reação à vacina. Normalmente, são pessoas que têm um pouco mais de sensibilidade, mas de um modo geral, a vacina é bem tolerada pela população”, afirmou, completando que não tem por que se preocupar, já que os efeitos colaterais não têm relação com a resposta imune.

- A vacina causa trombose?
Não. Roberta França explicou que a trombose pode acontecer em qualquer momento. Inclusive, o anticoncepcional, por exemplo, é uma droga que pode causar a enfermidade. ”A trombose é um evento clínico que pode acontecer em qualquer época da vida, com qualquer pessoa, independente de você tomar uma vacina ou não. Existe uma propensão genética a fazer trombo, tem pessoas que, por conta de outras medicações, podem fazer trombose, tem doenças que propiciam. Então, não é a vacina que efetivamente gera essa condição”.
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