Publicado 22/11/2021 17:29 | Atualizado 22/11/2021 17:35
Dados da inflação de outubro em vários países deixam claro que o problema é global. Efeitos colaterais da covid-19 sobre a economia, combinados com choques climáticos e tecnológicos explicam o quadro, segundo economistas. No Brasil, porém, as remarcações de preços são mais frenéticas, é um problema histórico da economia nacional, agravado agora pela taxa de câmbio e pela crise hídrica.
Só que, desta vez, até americanos e europeus, acostumados com uma inflação baixíssima há décadas, têm motivos para preocupação. A inflação em 12 meses nos Estados Unidos é a maior desde 1990. No Reino Unido, a maior desde novembro de 2011. Na zona do euro, a maior em 13 anos.
Ainda assim, o Brasil se destaca e integra o pequeno grupo das nações com inflação acumulada em 12 meses acima de dois dígitos, como mostra uma compilação do Banco de Compensações Internacionais (BIS, que é uma espécie de "banco central dos bancos centrais"). Com taxa de 10,7%, o país está no time da Argentina, com 51,7% em um ano até setembro, e da Turquia, com 19,6%, no mesmo período.
Em quase todos os países, a inflação acelerada se deve a uma combinação "atípica", "inédita" e "exótica", dizem economistas. Muitos desses choques estão relacionados à covid-19, outros já vinham de antes, e podem ter sido acelerados ou potencializados pela pandemia. O que chama a atenção é o fato de todos ocorrerem ao mesmo tempo.
Choques são vilões contumazes da inflação. Em condições normais, a dinâmica de preços é marcada pela relação entre oferta e demanda. Quando a segunda varia em ritmo mais rápido do que a primeira, os preços sobem, e vice-versa - justamente por isso, a política monetária de vários países atua para aquecer ou esfriar a demanda, de olho no controle da inflação. Nas crises, esse equilíbrio pode ser desbalanceado repentinamente se uma seca ou uma praga derrubar a oferta de determinado produto agrícola. Ou se demissões em massa afundarem a capacidade de consumo das famílias, no lado da demanda.
Choques simultâneos
Ainda assim, o Brasil se destaca e integra o pequeno grupo das nações com inflação acumulada em 12 meses acima de dois dígitos, como mostra uma compilação do Banco de Compensações Internacionais (BIS, que é uma espécie de "banco central dos bancos centrais"). Com taxa de 10,7%, o país está no time da Argentina, com 51,7% em um ano até setembro, e da Turquia, com 19,6%, no mesmo período.
Em quase todos os países, a inflação acelerada se deve a uma combinação "atípica", "inédita" e "exótica", dizem economistas. Muitos desses choques estão relacionados à covid-19, outros já vinham de antes, e podem ter sido acelerados ou potencializados pela pandemia. O que chama a atenção é o fato de todos ocorrerem ao mesmo tempo.
Choques são vilões contumazes da inflação. Em condições normais, a dinâmica de preços é marcada pela relação entre oferta e demanda. Quando a segunda varia em ritmo mais rápido do que a primeira, os preços sobem, e vice-versa - justamente por isso, a política monetária de vários países atua para aquecer ou esfriar a demanda, de olho no controle da inflação. Nas crises, esse equilíbrio pode ser desbalanceado repentinamente se uma seca ou uma praga derrubar a oferta de determinado produto agrícola. Ou se demissões em massa afundarem a capacidade de consumo das famílias, no lado da demanda.
Choques simultâneos
Ao se espalhar rapidamente pelo mundo, a covid-19 provocou, ao mesmo tempo, choques de demanda. Famílias em casa, com a renda comprometida, consumiram menos - e de oferta, com fábricas que pararam e negócios como bares, restaurantes e salões de beleza fechados. Nos primeiros meses da pandemia, a recessão segurou a inflação. A partir de meados do ano passado, a recuperação começou. Os choques seguiram atuando e se tornaram inflacionários.
Do lado da oferta, a indústria enfrenta gargalos em suas cadeias, com problemas no transporte marítimo e escassez de insumos. Do lado da demanda, medidas de transferência de renda, com recursos públicos, adotadas por diversos países para mitigar a crise, impulsionaram o consumo, especialmente de bens e de comida, pois as famílias vinham restringindo gastos com serviços por causa da covid-19.
"Países mais ricos, com grana no cofre, socorreram a economia com dinheiro. Essa ajuda aqueceu a economia", diz André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
O economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, destaca que os choques de oferta e demanda foram simultâneos em praticamente todos os países, tanto na recessão quanto na retomada. "Nunca teve essa recuperação concentrada ao mesmo tempo", afirma Cunha.
Esse desequilíbrio entre oferta e demanda espalhou a inflação, mas, para Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista sênior da gestora de recursos Asset 1, a culpa não é só da pandemia. Os choques da covid-19 se juntaram a outros, que já vinham de antes
É o caso da demanda por microchips - com o avanço tecnológico, todos os produtos, de carros a geladeiras, já vinham usando cada vez mais essas peças. Outra questão é a demanda da China por carnes e outros alimentos - cujo avanço passa pela transição no modelo econômico chinês, que pretende trocar de motor, de investimentos em infraestrutura para o consumo.
Freitas Filho cita também a transição global para uma economia de baixo carbono. A necessidade de abandonar fontes de combustível fóssil restringe investimentos na produção de petróleo, gás e carvão, diminuindo a perspectiva de oferta de curto prazo dessas matérias-primas, o que pressiona preços para cima. Nos Estados Unidos, os preços da energia ao consumidor sobem 30% em 12 meses. Combustíveis, eletricidade e calefação são vilões da inflação.
Do lado da oferta, a indústria enfrenta gargalos em suas cadeias, com problemas no transporte marítimo e escassez de insumos. Do lado da demanda, medidas de transferência de renda, com recursos públicos, adotadas por diversos países para mitigar a crise, impulsionaram o consumo, especialmente de bens e de comida, pois as famílias vinham restringindo gastos com serviços por causa da covid-19.
"Países mais ricos, com grana no cofre, socorreram a economia com dinheiro. Essa ajuda aqueceu a economia", diz André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
O economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, destaca que os choques de oferta e demanda foram simultâneos em praticamente todos os países, tanto na recessão quanto na retomada. "Nunca teve essa recuperação concentrada ao mesmo tempo", afirma Cunha.
Esse desequilíbrio entre oferta e demanda espalhou a inflação, mas, para Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista sênior da gestora de recursos Asset 1, a culpa não é só da pandemia. Os choques da covid-19 se juntaram a outros, que já vinham de antes
É o caso da demanda por microchips - com o avanço tecnológico, todos os produtos, de carros a geladeiras, já vinham usando cada vez mais essas peças. Outra questão é a demanda da China por carnes e outros alimentos - cujo avanço passa pela transição no modelo econômico chinês, que pretende trocar de motor, de investimentos em infraestrutura para o consumo.
Freitas Filho cita também a transição global para uma economia de baixo carbono. A necessidade de abandonar fontes de combustível fóssil restringe investimentos na produção de petróleo, gás e carvão, diminuindo a perspectiva de oferta de curto prazo dessas matérias-primas, o que pressiona preços para cima. Nos Estados Unidos, os preços da energia ao consumidor sobem 30% em 12 meses. Combustíveis, eletricidade e calefação são vilões da inflação.
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