Publicado 29/11/2021 09:19 | Atualizado 29/11/2021 09:29
São Paulo - Depois de analisar imagens e investigar o caso, a Corregedoria da Polícia Militar apontou que PMs do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) mataram um homem desarmado e já dominado durante uma ação policial, em setembro deste ano. O caso aconteceu em São José dos Campos, interior de São Paulo, quando o grupo de quatro policiais abordou cinco suspeitos de roubo em um carro. Na ocasião, um deles foi morto, outro foi baleado e três foram presos.
Ainda segundo a Corregedoria, os policiais também forjaram uma cena do crime diferente, para embasar a versão de que teriam reagido a um confronto, quando na realidade houve uma execução. Imagens registradas pelas câmeras que estavam na farda dos PMs e divulgadas pelo programa Fantástico, da TV Globo, mostraram o momento em que os policiais abordam os suspeitos e atiram, além de um diálogo após o ocorrido.
O segundo-sargento Frederico Inácio de Souza, que chefiava o grupo e matou o suspeito, aproveitou a obrigatoriedade do uso de câmeras no uniforme para se justificar em uma conversa com outro oficial. "Dando ordem que descesse, ele sacou a arma. Eu efetuei dois ou três disparos. Se não me engano, três disparos. (...) De fuzil", relatou. No entanto, a Corregedoria apontou que as imagens revelam uma grande farsa dos policiais para tentar evitar as consequências.
O caso
A ação começou após os suspeitos efetuarem um roubo em dois mercadinhos na mesma rua onde aconteceu a execução. Na situação, um dos assaltantes chegou a ameaçar um casal que estava com um bebê no colo. Em seguida, eles fugiram levando celulares, dinheiro e cigarros. O grupo usava máscara e dois deles estavam armados, um usava um revólver e o outro uma pistola de brinquedo.
Além dos assaltos, a polícia também estava sob alerta do registro de um roubo de carro no dia anterior. Após identificar o veículo, a equipe do sargento, que estava próxima ao local, passou a perseguir o automóvel. Durante o caminho, os suspeitos jogaram a pistola de brinquedo fora. Depois de percorrer alguns metros o grupo bateu com o carro e esse foi o momento em que os PMs usaram para fazer a abordagem. Nesse instante, o braço de Frederico Inácio estava tampando parte da câmera, mas ainda é possível ouvir os três disparos realizados.
De acordo com a Corregedoria, os policiais só confirmaram que os suspeitos tinham de fato sido os responsáveis pelo roubo dos mercadinhos após os disparos, quando imediatamente começaram a alterar a cena do crime para forjar um confronto. Só então, os policiais prenderam os outros homens. A investigação apontou, ainda, que um soldado tinha levado uma pistola com a numeração raspada para o local, que foi plantada pelos PMs para embasar a versão do grupo.
Os policiais foram afastados das ruas e estão atuando em funções administrativas da corporação, já que o juiz do caso determinou que eles respondam em liberdade. O promotor Luiz Fernando Ambrogi, do Ministério Público de São Paulo, alegou que "os indiciados são primários e ostentam bons antecedentes", além de afirmar que "as provas ainda não permitem identificar de forma mais detalhada a ação de cada suspeito, havendo necessidade de um maior aprofundamento nas investigações".
Do grupo de suspeitos, dois não tinham passagem anterior, um já tinha sido preso por tráfico e roubo e o quarto, que foi baleado, mas sobreviveu porque usava um colete a prova de balas, tem 16 anos e cumpre medida socioeducativa. Ele foi criado pela avó, o pai está preso e a mãe é usuária de drogas. Vinicius Castro Gomes, de 20 anos, que morreu no local, já tinha sido condenado por receptação e posse ilegal de arma, e deixou duas filhas.
Ao Fantástico, o pai de Vinícius fez um desabafo: "Assim como os outros quatro estão pagando pelos erros deles, meu filho deveria estar junto lá pagando. Nem que ficasse 15, 20 anos na cadeia. Não importava. Eu poderia dar um abraço nele depois".
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