Publicado 30/11/2021 11:49
Brasília - O ex-juiz e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (Podemos), afirmou em seu livro "Contra o sistema da corrupção" que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) o proibiu de realizar manifestações sobre os inquéritos envolvendo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Patriotas).
Segundo o ex-magistrado, "fui orientado a me manter distante da questão. 'Se não vai ajudar, então não atrapalhe', ele (Bolsonaro) me disse. Por uma questão pessoal, o presidente pedia a mim que ignorasse aquela séria ameaça ao sistema nacional de prevenção à lavagem de dinheiro".
O episódio em questão refere-se a uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que suspendeu os inquéritos derivados dos relatórios do Coaf - o que beneficiou Flávio em seus inquéritos.
Moro contou que os planos de Bolsonaro, no início de 2020, era de desmembrar o Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Caso a decisão fosse tomada, sua saída seria iminente. "Se a pasta fosse dividida, não continuaria no governo de jeito algum (…). Concluí que ele simplesmente não confiava em mim e não desejava a minha presença no governo".
O ex-juiz afirmou que "é fácil concluir" que errou ao ter aceitado ser ministro de Bolsonaro, mas que "naquela época, no entanto, o conhecimento do futuro não estava à disposição".
Interferência na Polícia Federal
De acordo com o colunista Thiago Henry, do portal UOL, o ex-ministro também revelou, em seu livro, a tentativa de Bolsonaro de interferir na direção da Polícia Federal (PF). Ele contou que, quando voltou das férias no Canadá, no início de janeiro do ano passado, as pressões para que substituísse o diretor-geral da PF voltaram: "Mas dessa vez ocorreu um fato um pouco desagradável: o próprio presidente contatou diretamente (Maurício) Valeixo (então diretor-geral da PF). Disse sem meias palavras que queria substituí-lo e lhe ofereceu, em troca, um cargo de adido no exterior", disse em um trecho do livro.
E acrescentou: "Embora tenha tido uma postura louvável em agosto de 2019, quando recusou a indicação de Bolsonaro para trocar o comando da PF no Rio, agora o delegado se dizia exausto com a pressão presidencial para que deixasse o cargo. Em um telefonema, ele me disse que era melhor sair".
Moro comentou também que esteve em uma reunião no Palácio do Planalto, em Brasília, com Bolsonaro e outro ministro. Na ocasião, segundo ele, foram apresentados três nomes para que escolhesse um substituto do diretor-geral. "Daqueles três, dois eram absolutamente inaceitáveis, por falta de histórico suficiente na Polícia Federal ou por outras questões específicas. Apenas um deles, o delegado da PF Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), me parecia aceitável, apesar de sua pouca experiência", afirmou.
O ex-ministro disse que concordou com a troca naquele momento: "O que mais tarde se revelaria um erro -, mas pedi mais tempo para preparar a Polícia Federal para aquela mudança. Eu também estava cansado do desgaste com esse caso e pensei que, com Ramagem, pelo menos se evitava o pior, que seria a nomeação dos outros dois, absolutamente desqualificados para o cargo", revelou.
Moro afirmou que, posteriormente, refletiu melhor, e percebeu que caiu em uma "armadilha". Ele completou: "Primeiro, porque não havia motivo para a saída do diretor-geral Valeixo. Segundo, embora Ramagem até aparentasse ser um bom profissional, seria visto como uma interferência do Planalto na Polícia Federal - o delegado era muito próximo da família Bolsonaro desde a campanha de 2018, quando comandou a segurança do então candidato a presidente", contou em seu livro.
"Na prática, eu aceitaria que o diretor-geral fosse punido por ter feito o correto ao resistir àquela substituição do superintendente do Rio de Janeiro em agosto de 2019. Isso sem falar que o presidente, sem uma causa aparente, rompia de vez o compromisso assumido comigo ao me convidar para o ministério: a aludida carta branca para as nomeações", disse Moro.
*Com informações do iG
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