Julgamento de quatro acusados do incêndio na Boate Kiss começou na última quarta-feiraLeandro LV/ Wikimedia Commons
Publicado 05/12/2021 12:36 | Atualizado 05/12/2021 12:52
O julgamento do caso da Boate Kiss chega ao 5º dia neste domingo, 5, quando devem ser ouvidos uma testemunha de defesa do sócio da casa noturna Mauro Hoffmann, Tiago Mutti, e o sobrevivente Delvani Brondani Rosso. Ao todo, quatro réus respondem por 242 homicídios com dolo eventual, quando se assume o risco de matar, e 636 tentativas de homicídio, em referência à quantidade de feridos após o incêndio que atingiu a casa de shows em janeiro de 2013, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
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Dos 12 sobreviventes convocados para depor, oito já foram ouvidos até o momento. Outras quatro pessoas também já testemunharam ao júri. Além dos quatro réus, 16 pessoas devem falar enquanto testemunhas.
Neste sábado, Cristiane dos Santos Clavé, que conseguiu escapar da tragédia com vida relatou que o irmão, que foi buscá-la no local, ajudou a quebrar as paredes da boate na tentativa de tirar a fumaça tóxica. "Quando meu irmão chegou, eu disse pra ele que aquilo era um filme de terror. Meu irmão foi tirar as madeiras que revestiram a parede. Ele veio até a mim dizendo que ia entrar. Eu disse pra ele não entrar", contou. Ela afirmou, ainda, que não houve um aviso para evacuação da casa noturna: "Muita gente morreu sem saber o que estava acontecendo".
Vanessa Gonzaga Noronha, irmã de uma das vítimas da tragédia prestou depoimento ao júri e relatou os momentos de angústia vividos pela família nesta sexta-feira, 3. "Queremos um pouco de paz, foram oito anos de luta e de perda", desabafou a irmã. Ela reforçou, ainda, que foram anos de impotência à espera de uma resposta. "Precisamos disso para acalentar nossos corações, para não deixar que isso torne a acontecer. Podemos ter esperado todo esse tempo, foi doloroso, mas chegamos até aqui", disse.
Uma ex-funcionária da boate, que foi a primeira testemunha a prestar depoimento, na quarta-feira, 1, mostrou o ponto de vista de quem estava no local no momento do incêndio e contou que sobreviveu por muito pouco. "A Kiss era um labirinto, eu mesmo trabalhava lá e quase não consegui sair", afirmou. Quando se iniciou o incêndio ela estava na cozinha, preparando lanches para os clientes, junto à colega Janaína, jovem que morreu na tragédia. Ao perceber que havia algo errado, Kátia teve dificuldade de deixar o espaço, que ficava relativamente próximo à saída.

"Escutava gente gritando que era fogo e gente gritando que era briga. Não sabia o que estava acontecendo. Quando senti que era fogo mesmo, respirei fundo e tentei sair. Mas tinha gente empurrando porque a porta da cozinha era perto dos banheiros, e tinha gente imaginando que o banheiro era a saída", acrescentou. Relatos da época indicam que diversos corpos foram encontrados no banheiro após o incêndio.
Ainda na quarta-feira, um dos quatro réus do caso passou mal antes do início do julgamento no Foro Central de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O produtor musical Luciano Bonilha Leão, de 44 anos, precisou ser atendido no ambulatório do local. Ao chegar no julgamento, ele não falou com a imprensa, porém deu a seguinte declaração: "Eu não sou assassino".
Segundo a denúncia do Ministério Público, Luciano foi a pessoa que comprou e ativou o fogo de artifício e que deu início ao incêndio e provocou a morte de 242 pessoas. Além dele, também são acusados os empresários e sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, e o músico Marcelo de Jesus dos Santos, que além das mortes também são investigados pela tentativa de homicídio de outras 636 que tiveram ferimentos com o incêndio.
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