Por marta.valim

O governo de Minas Gerais prepara um aumento de capital, com aporte de sócio estrangeiro, na distribuidora de gás canalizado Gasmig, controlada pela Cemig e com participação minoritária da Petrobras. O objetivo é garantir os recursos necessários para a construção de um gasoduto de 503 quilômetros ligando a região metropolitana de Belo Horizonte a Uberaba, onde está sendo implantada uma fábrica de fertilizantes da Petrobras. Orçado em R$ 2 bilhões, o projeto é o maior duto de distribuição já construído no Brasil.

Não há ainda informações oficiais sobre a origem do novo sócio, mas representantes do governo estiveram em março na China, em busca de investidores. Entre as gigantes petroleiras chinesas, a Sinopec já esteve envolvida na construção de gasodutos no Brasil, contratada pela Petrobras. “O arranjo financeiro está em estudo e deve contar com um parceiro internacional para ajudar no aporte”, disse ontem Guilherme Faria, superintendente de Política Energética da Secretaria de Desenvolvimento do governo de Minas Gerais, após palestra no Gas Summit Latin America 2014, no Rio.

Ele não quis adiantar maiores detalhes, alegando que a transação envolve empresas com ações negociadas em bolsa de valores. Com capacidade de 3,5 milhões de metros cúbicos por dia, o gasoduto foi elaborado para garantir o abastecimento da fábrica de fertilizantes da Petrobras após parecer emitido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), contrário à interconexão das redes de distribuição da Gas Brasiliano, que atende ao Oeste de São Paulo, e da Cemig — a ideia original era construir um gasoduto de 180 quilômetros ligando Ribeirão Preto a Uberaba.
“A alternativa cria um desafio maior, mas também gera a oportunidade para desenvolver o mercado de gás no Oeste de Minas Gerais”, minimizou Faria.

A Gasmig, porém, não tem dinheiro para tocar o projeto e precisará de um aumento de capital. O desenvolvimento do mercado de gás natural é uma das prioridades do governo mineiro, diante dos primeiro indícios de reservas não convencionais na Bacia do São Francisco. De 34 poços perfurados na região, 27 indicaram a presença do combustível, informa o superintendente da Secretaria de Desenvolvimento. Ao todo, há 100 mil quilômetros quadrados de concessões exploratórias na bacia.

“Como se trata de tight gas (reservatórios com baixa permeabilidade, semelhantes ao do gás de xisto), é preciso entender melhor a geologia. Mas a tecnologia já é conhecida”, comenta ele. O tight gas é um dos vetores da nova revolução energética americana, que vem revertendo a dependência externa dos Estados Unidos com relação ao abastecimento de combustíveis. Em Minas Gerais, porém, ainda não há produção — as empresas aguardam definição sobre as regras para o uso da polêmica tecnologia de fraturamento hidráulico.

A ANP publicou recentemente uma portaria regulamentando o uso da tecnologia (que é criticada pelo uso intensivo de água e produtos químicos, que podem contaminar lençóis freáticos), mas ainda falta definir a responsabilidade pelo licenciamento ambiental. O governo de Minas já elaborou um manual de licenciamento, mas o Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pode assumir o papel.

O desenvolvimento de jazidas no São Francisco depende também de infraestrutura de transporte do gás. O Plano de Expansão da Malha de Gasodutos (Pemat), lançado este ano pelo governo, não prevê licitação de redes de transporte na região. Faria diz que uma das alternativas é implantar gasodutos virtuais — transporte de gás natural comprimido ou liquefeito aos mercados consumidores por caminhões, enquanto a oferta não viabiliza os pesados investimentos necessários para construir um gasoduto. Outra opção, que já vem sendo usada na Bacia do Parnaíba, também desprovida de infraestrutura de transporte, é a instalação de térmicas sobre as reservas de gás.

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