Por monica.lima

Rio - Caso o ano de 2014 terminasse hoje, os R$ 30 bilhões de aporte do Tesouro Nacional no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) seriam mais que suficientes para compor o orçamento do banco e cumprir a demanda da indústria neste ano. Termômetro da disposição de investimento do empresariado nacional, os produtores de máquinas e equipamentos — reunidos na Abimaq — faturaram 5% menos no primeiro trimestre deste ano do que em igual período de 2013, o que, diz o presidente da instituição, Carlos Pastoriza, comprova o conservadorismo do empresariado e o perfil moderado de investimento neste início de 2014. Mesmo Luciano Coutinho, presidente do BNDES, admitiu que os recursos são “suficientes”, após evento no Rio.

Desempenho da economia, eleições e capacidade do governo em solucionar as dificuldades do setor elétrico. A lista de variáveis que irão determinar se o setor produtivo irá ampliar ou modernizar o seu parque é extensa, ressalta o presidente da Abimaq. “Hoje, a temperatura é morna, esfriando. Tem que aguardar o que vem pela frente”.

A avaliação de Pastoriza é que o governo irá acompanhar de perto os pedidos de financiamento mês a mês para definir o orçamento do ano e também as condições de financiamento. No melhor dos cenários, com o aquecimento da economia e uma consequente expansão da demanda — cenário que ainda não se desenhou —, os fabricantes de máquinas e equipamentos trabalham com a hipótese de que o Tesouro Nacional fará novo aporte no banco. Foi assim no ano passado, quando os recursos começaram em R$ 15 bilhões em junho e chegaram a R$ 39 bilhões em outubro.

“O governo sabe que essa linha (o PSI, Programa de Sustentação do Investimento) é a única existente no Brasil para financiar longo prazo”, argumenta Pastoriza. O risco, complementa, é que o dinheiro do Tesouro seja usado em manobras financeiras e não para ampliar a taxa de investimento do país, atualmente, de 18,5%. À medida que a taxa básica de juros seja elevada, passa a ser mais vantajoso para os investidores adquirir títulos públicos e custear seus investimentos com dinheiro do BNDES do que bancar os projetos com o capital próprio, como faria em uma outra situação. “Nesse sentido, talvez fosse favorável o governo ajustar a taxa de juros do PSI para que tenha recursos a todos. O governo vai ter que jogar com isso ao longo do ano”, opina.

O BNDES empresta a 7,1% ao ano em média. Com a inflação a 6,3% (IPCA 12 meses), o juro real é de 0,8%. É claro que quem tem acesso fica feliz. Mas a taxa de investimento do país permanece a mesma há anos”, contesta Armando Castelar, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre).

O setor têxtil — por meio da Abit — informa que, neste ano, tem intenção de investir na mesma proporção de 2013, mas tudo dependerá do decorrer dos próximos meses. Por enquanto, a expectativa é repetir os US$ 3,5 bilhões do ano passado, dos quais US$ 1 bilhão vieram do BNDES.

Na Abinee — representante da indústria de eletroeletrônicos — a notícia de que o Tesouro irá repassar R$ 30 bilhões ao BNDES neste ano, parte ainda em maio, foi comemorada, ainda que o valor seja aquém do aporte do ano passado. “Afinal, são R$ 30 bilhões entran<CW-18>do no caixa, que vão permitir que o BNDES garanta taxas atrativas para bens de capital”, afirma Luiz Cezar Rochel, gerente do Departamento de Economia da Associação.

Ao contrário da indústria de máquinas e equipamentos, o setor está otimista com 2014 e vê no banco estatal uma fonte de financiamento essencial para os seus planos de crescimento. Em 2013, o BNDES financiou R$ 2 bilhões aos clientes das empresas associadas à Abinee, principalmente por meio da linha Finame. “E, neste ano, certamente o desembolso será maior”, projeta Rochel.

As condições de pagamento justificam a procura por empréstimos em informática, acredita o economista. São 4,5% ao ano, “ as taxas mais competitivas do mundo. Com a Selic subindo, ficam mais ainda”, avalia.


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