Por marta.valim

A SLC Agrícola SA, maior produtora de algodão e soja de capital aberto do Brasil, está reduzindo seus planos de dobrar suas áreas de plantio depois que os preços das commodities despencaram.

A empresa, que triplicou suas terras desde que se tornou pública em 2007, está desmantelando um plano anunciado em 2011 para expandir o total para 700.000 hectares até 2020, contra 344.000 agora, disse o CEO Aurélio Pavinato em entrevista. Em vez disso, a empresa com sede em Porto Alegre quer impulsionar o fluxo de caixa tornando as fazendas atuais mais eficientes, disse ele.

A soja e o milho estão sendo negociados na maior baixa dos últimos quatro anos e o algodão está registrando a segunda maior queda entre as commodities agrícolas em todo o mundo neste ano. Isso torna menos desejadas as aquisições de terras para cultivo em algumas regiões do Brasil localizadas longe de portos. A SLC está, agora, focando em áreas que precisam de menos investimentos por meio de leasing e joint ventures e também de redução de custos.

“Queremos crescer mais seletivamente agora”, disse Pavinato, no escritório da Bloomberg em São Paulo. Embora a demanda por grãos vá seguir forte, não subirá tão rapidamente quanto nos anos anteriores, disse ele. “Isso nos leva a nos preocupar mais com eficiência”.

Ações com baixo desempenho

A mudança na estratégia da empresa surge em um momento em que suas ações são negociadas abaixo do que Pavinato considera um valor justo. A SLC caiu 11% neste ano até o início das negociações de hoje, contra um ganho de 8,2% do Ibovespa. As concorrentes menores Vanguarda Agro SA e BrasilAgro também tiveram desempenho abaixo do índice de referência do Brasil, registrando uma queda de 24 por cento e um aumento de 1,6 por cento no período, respectivamente.

“Estamos insatisfeitos com a precificação do mercado em relação à nossa empresa”, disse Pavinato. O portfólio de terras cultiváveis da empresa implica um preço de R$ 35 (US$ 16) por ação. “Estamos visualizando que o mercado está valorizando mais a rentabilidade e a geração de caixa”.

Ontem a SLC caiu 0,4% nas negociações em São Paulo e fechou a R$ 18,17. A companhia registrou um lucro líquido de R$ 96,6 milhões e fluxo de caixa negativo de R$ 306 milhões em 2013, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Melhorias logísticas darão um grande impulso aos planos da SLC de ganhar mais por hectare nos próximos anos, disse Pavinato. Operadoras como Bunge Ltd. e Cargill Inc. estão investindo cerca de US$ 2,5 bilhões em cais, frotas de barcaças e terminais para tirar vantagem de uma nova rota de navegação pelo Rio Amazonas.

Hoje a maior parte da produção de soja e milho do Brasil é transportada por caminhão por mais de 2.000 quilômetros para portos localizados no sudeste do país. O custo para transportar a soja que sai do Mato Grosso pode cair 25%, ou cerca de US$ 1 por bushel (27,2 quilos, no caso da soja), quando as exportações pela rota amazônica aumentarem, disse Pavinato.

Mudando a logística

“Nunca tivemos uma mudança tão forte em logística quanto a que vamos viver nos próximos cinco anos”, disse ele, e a melhoria reforçará os preços das terras no Brasil. “Nós seremos mais competitivos”.

A empresa planeja aumentar a fatia de terras arrendadas para metade de seu portfólio, contra cerca de um terço atualmente, disse Pavinato. A mudança ajudará a aumentar o fluxo de caixa e a reduzir as despesas de capital, enquanto os custos dos empréstimos sobem. A SLC também está em busca de joint ventures, como a que formou no ano passado com a Mitsui Co. para produção de soja e algodão no Nordeste do Brasil.

Essa estratégia ajudará as ações a subirem no médio e no longo prazo, disseram Nataniel Cezimbra e Márcio Montes, analistas do Banco do Brasil SA, em resposta a perguntas enviadas por e-mail.

O Banco do Brasil classifica a ação com o equivalente a compra, juntamente com outras 10 classificações de compra. Três analistas dizem manter e ninguém recomenda a venda, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“A SLC é uma das empresas agrícolas mais produtivas do mundo”, disseram os analistas.

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