Por marta.valim

O governo do Rio inaugurou ontem, em São Pedro da Aldeia, a primeira usina de tratamento de biogás do estado. O empreendimento tem a dupla tarefa de fazer o aproveitamento dos resíduos sólidos da região e de fornecer gás para o abastecimento urbano. Na usina do Aterro Dois Arcos, com um investimento de R$ 18 milhões, as empresas Osafi e Ecometano transformarão em gás natural 600 toneladas de lixo produzidas diariamente pelo município e outras sete localidades. Ainda tímido no Brasil, o aproveitamento do biogás deve ganhar fôlego a partir de 31 de outubro, quando acontece o primeiro leilão de energia de reserva com possibilidade de compra desta fonte. Segundo especialistas, o potencial de geração com biogás chega a 2 mil megawatts (MW).

O gás da usina do Aterro Dois Arcos será vendido à distribuidora local de gás canalizado, movimento que já vem sendo aproveitado por outras empresas no país. Com o leilão de energia, espera-se um novo salto, uma vez que garante contratos de longo prazo, que justificam investimentos — oito empreendimentos foram inscritos para a concorrência. “O leilão dará segurança de longo prazo aos investidores, pois o contrato é para fornecimento por 20 anos, o que assegurará uma receita por um prazo muito maior do que o praticado hoje”, avalia Gabriel Kropsch, sócio da Acesa, empresa que atua há cinco anos neste mercado, com tecnologia que permite a utilização do biogás para energia elétrica e como combustível veicular.

Se bem-sucedido, diz Kropch, o leilão vai precificar o valor dessa fonte de geração, que até o momento não tem preço de referência no mercado brasileiro. Além disso, segundo ele, os efeitos do leilão serão sentidos não apenas pelas empresas que produzem energia elétrica a partir do biogás, mas também por toda a cadeia. “É o caso da nossa empresa, que é focada na prestação de serviços de transformação de biogás em biometano e está associada a empreendedores que participarão do leilão”, exemplificou.

O sócio da área de regulação do Siqueira Castro Advogados, Fernando Vilella, também é otimista em relação ao mercado de biogás no Brasil. “O mercado de energia renovável sempre responde bem quando percebe que o governo está olhando para aquela fonte. Isso aconteceu com a energia eólica, que já foi muito cara e, depois de incentivada, tornou-se possível. E já vemos o mesmo fenômeno acontecendo com a energia solar. O mercado de biogás é ainda embrionário, mas terá o mesmo potencial de se desenvolver”, compara.

Vilella ponderou que, dos mais de 1.000 projetos inscritos no leilão de energia de reserva, cerca de 600 são provenientes de energia eólica, 400 de solar e apenas 8 de biogás. “É um número muito tímido, que resultará na venda de cerca de apenas 150 megawatts. Não é uma surpresa, pois se trata de um mercado embrionário”, diz. “Mas, se alguém nos perguntasse dois anos atrás, quando começou a ser incentivado o mercado de energia solar no Brasil, qual seria o potencial dele, ninguém imaginaria que chegaríamos a 400 projetos inscritos no leilão de outubro”.

O consultor da Thymos Sami Grynwald concorda com o potencial do biogás. “Considerando os aterros existentes hoje no Brasil, temos um potencial de geração que chega de 1,5 a 2 gigawatts médios. E o leilão fortalece isso. O mercado cativo é um importante vetor de desenvolvimento do biogás, pois assegura uma receita aos investidores, reduzindo a necessidade de financiamento”, destaca. Ao mesmo tempo, disse Grynwald, ainda não é fácil para os empreendedores inscreverem projetos no leilão porque a oferta de energia do biogás tem ritmo decrescente. “O biogás tem esse desafio, porque o combustível vai diminuindo conforme a liberalização de gás é reduzida com a utilização dos aterros”, explica.

Coordenadora do Programa Rio Capital da Energia, Maria Paula Martins explica que o gás usado pela usina Dois Arcos, em São Pedro da Aldeia, será distribuído pela distribuidora CEG Rio, que abastece o interior do estado, em volume que poderá representar até 5% das vendas totais da companhia. 

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