Sem sinais claros sobre reajustes nos preços dos combustíveis, a Petrobras tenta equacionar sua situação financeira com uma fórmula que inclui crescimento das exportações de petróleo e da oferta interna de gasolina, diesel e gás natural, para reduzir a necessidade de importações. A venda de combustíveis abaixo do preço internacional é a principal causa da delicada situação financeira da companhia, que teve uma queima de caixa de R$ 13,4 bilhões no primeiro semestre de 2014, e vem encontrando dificuldades para melhorar seus indicadores de endividamento. Segunda-feira, no primeiro dia útil após a divulgação do balanço, as ações preferenciais da companhia subiram 4,30% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
“Ninguém gostou do resultado, mas, inexplicavelmente, as ações estão subindo”, comentou o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi. O mercado apostava na proximidade de aumentos de preços, após declarações da presidenta Dilma Rousseff sobre o tema no domingo. Em entrevista concedida após conferência com analistas, o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, voltou a dizer que a companhia continua buscando reajustes, mas evitou fazer previsões — a decisão depende do Conselho de Administração, controlado pelo governo. “Estamos trabalhando com o crescimento (da produção)e com o alinhamento de preços”, afirmou o executivo, repetindo discurso adotado pela empresa no final do ano passado.
Enquanto o reajuste não vem, a empresa busca alternativas para melhorar sua situação financeira — no segundo trimestre de 2014, apesar da evolução nos indicadores operacionais, a alavancagem manteve a curva de alta, se distanciando ainda mais das metas estabelecidas pelo conselho. O aumento da receita via crescimento da produção é uma delas. Em outra frente, a estratégia é reduzir a compra de combustíveis importados. Com a entrada de novos equipamentos na Refinaria Alberto Pasqualini, em fase de testes, serão 12 mil barris do combustível a mais por dia. Em 4 de novembro, está previsto o início das operações da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que deve atingir a produção de 115 mil barris por dia em janeiro.
Além disso, a companhia aproveita o crescimento da produção nacional de gás natural para produzir gasolina a partir de frações líquidas do gás, chamadas de condensado, em um processo conhecido como formulação, que pode ser feito em bases de tancagem da empresa por todo o Brasil. Segundo as projeções apresentadas ontem, a produção de gás nacional vai crescer 20% no segundo semestre, para 48 milhões de metros cúbicos por dia. “Estamos também intensificando a utilização da infraestrutura logística, para garantir aumento da oferta de gasolina”, disse o diretor de abastecimento da estatal, José Carlos Cosenza.
A reversão do fluxo negativo de caixa, que dura desde 2006, é fundamental para que a empresa melhore seus indicadores de endividamento, dizem analistas. “O resultado ruim grita em alto e bom som que a política atual para a empresa é insustentável, aumentando a pressão sobre reajuste necessário de preços”, diz Roberto Altenhofen, analista da Empiricus, em newsletter na qual destaca a queima de R$ 13,4 bilhões caixa com aumento da dívida líquida e piora da alavancagem. Barbassa frisou que a direção da estatal continua perseguindo as metas estipuladas pelo conselho, que devem ser atingidas no final de 2015. “Sem reajustes, eles vão ter que fazer milagres”, conclui Galdi.