Em 2014 o Brasil comemora dez anos de política industrial. Nesse período foram implantados três planos pensados para dar fôlego à indústria nacional. O sucesso ou não da estratégia divide opiniões. Mas se a taxa de investimento em máquinas e equipamentos for um balizador, o resultado não é dos mais animadores. No segundo trimestre deste ano, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF)recuou para 16,5% do Produto Interno Bruto (PIB), após encerrar 2013 com participação de 18,4%.
Para o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho, o insucesso das recentes políticas industriais se deve à política macroeconômica praticada pelo governo. “Por conta disso a indústria enfrenta um ambiente não competitivo, em meio a pesadas cargas tributárias, insegurança jurídica e elevados custos de produção”, afirmou durante o 11º Fórum de Economia realizado pela Escola de Economia de São Paulo (EESP-FGV) nesta semana em São Paulo.
Os planos de política industrial, disse Roriz, ajudaram pouco a indústria, que vem perdendo participação no PIB. “Mas se não fosse esse pouco, talvez a situação estivesse muito pior do que está”, afirmou, referindo-se à adoção de medidas como a desoneração tributária. Para Roriz, o país fracassa em estabelecer uma política industrial muito abrangente.
Professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), David Kupfer, que também é economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), avalia que dez anos são poucos para avaliar o sucesso ou fracasso da política.
“Dez anos não são suficientes para o processo de mudança. A política industrial mira o longo prazo. Além disso, ela não é voltada para gerenciar os problemas do setor produtivo de curto prazo. A ideia é muito mais de construir algo do que fazer as coisas do dia a dia funcionarem ”, disse Kupfer.
Para ele, que assume ser defensor de políticas industriais, os três planos são muito bons, mas foram atropelados pela excessiva volatilidade da economia mundial nos últimos anos. “A crise mundial teve início em 2008, mas a volatilidade já vem desde o início dos anos 2000”, disse Kupfer.
Para ele, cada um dos planos foram pensados para promover a inovação e assim, ampliar a participação do Brasil globalmente. Ainda assim, diz Kupfer, para ser bem sucedida, a política industrial precisa ter pertinência na estratégia da política econômica e convergência para ela.
Entretanto, na opinião do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Luiz Carlos Bresser-Pereira, não é isso o que está acontecendo, já que a política industrial tem sido realizada no Brasil sob conjuntura macroeconômica adversa, com reflexos na perda de competitividade e produtividade da manufatura.
Bresser-Pereira diz que a conjuntura ideal para uma política industrial exitosa é aquela com juros baixos, inflação sob controle, investimento público e privado crescentes e superávit comercial. “Infelizmente não é nossa realidade. Mas exatamente por isso a política industrial se torna tão necessária, ainda que tenha sua eficácia reduzida”, disse o professor.
Diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), José Tavares de Araújo diz que a indústria tem uma evolução muito heterogênea, mas que alguns setores nunca foram tão bem, como defesa, alimentos, celulose e cosméticos. Enquanto outros ainda se ressentem do câmbio valorizado e da inundação de produtos importados no comércio.
“O foco da política industrial não é a substituição de importação, mas que as empresas sejam inovadoras. Mas infelizmente, as empresas só inovam quando elas não têm mais saída, já que inovação tem economia de escala e envolve o risco de não dar em nada.”
“Ampliar a competitividade passa por melhora da produtividade, que vem com a mudança tecnológica em ativos de capital fixo”, disse o professor de economia da FGV, Fabio Freitas, lembrando que o investimento é uma das principais fontes de crescimento da indústria. Mas pelas quedas recorrentes do FBCF, não é isso que vem ocorrendo.