Por bruno.dutra
Rio de Janeiro / São Paulo - Puxada pelos gastos públicos, a economia brasileira saiu da recessão técnica no terceiro trimestre com um crescimento mínimo que mostra estagnação e dificuldade de recuperação mais consistente da atividade num momento em que o governo já indicou mais austeridade fiscal.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre de 2014, na comparação com os três meses anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
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Mesmo tendo ficado praticamente estagnado, o país saiu da recessão técnica --dois trimestres seguidos de contração-- que havia entrado no semestre passado pela primeira vez desde a crise internacional de 2008/09. Em relação ao terceiro trimestre de 2013, o PIB brasileiro registrou queda de 0,2%.
A mediana de previsões de analistas consultados pela Reuters apontava para crescimento trimestral de 0,3 por cento e contração de 0,1% na comparação anual.
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"A questão é o que o Brasil está saindo mancando, e não saltando, da recessão. O crescimento trimestral mostra o tamanho do desafio da nova equipe econômica. Boa parte do crescimento veio de gastos do governo, que não vão continuar", afirmou o economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, Neal Shearing.
Segundo o IBGE, o consumo do governo cresceu 1,3 por cento no trimestre passado sobre o período imediatamente anterior, o melhor desempenho desde o segundo trimestre de 2013, quando a expansão havia sido de 1,5%. Sobre o terceiro trimestre do ano passado, avançou 1,9% agora.
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Esse desempenho, no entanto, parece estar com os dias contados, diante da formação da nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff, com perfil mais ortodoxo e discurso de mais rigor fiscal, com corte de despesas.
Na véspera, foi confirmado que Joaquim Levy assumirá o Ministério da Fazenda, enquanto Nelson Barbosa vai para o comando do Planejamento. Alexandre Tombini, que iniciou mais um ciclo de aperto monetário recentemente, continua à frente do Banco Central.
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O Brasil tem convivido com inflação elevada e baixo ritmo de crescimento, o que afetou em cheio a confiança dos agentes econômicos.
INVESTIMENTOS
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No trimestre passado, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) --medida de investimento-- cresceu 1,3 por cento, interrompendo sequência de quatro trimestres seguidos de queda. Mas ainda continua fortemente no vermelho na comparação anual, com queda de 8,5%. Segundo o IBGE, houve queda na produção interna e importação de bens de capital.
A taxa de investimento do país foi a 17,4% do PIB no último trimestre, a pior para esse período desde 2002 (17,2%).
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A indústria, por sua vez, teve expansão de 1,7% entre julho e setembro, sobre o segundo trimestre, após ficar no vermelho por quatro períodos consecutivos. A economista do IBGE, Rebeca Palis, lembra que, no segundo trimestre, houve menos dias úteis por conta da Copa do Mundo, o que ajuda na recuperação agora.
Segundo o IBGE, todos os subsetores da indústria apresentaram variação positiva, com destaque para extrativa mineral (2,2%) e construção civil (1,3%). Mas, apesar da melhora na comparação trimestral, a indústria ainda mostrou contração de 1,5% sobre um ano antes.
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Para o quarto trimestre, já aparecem alguns sinais de um pouco mais de recuperação da indústria. A confiança do setor, medida pela Fundação Getulio Vargas (FGV), cresceu em outubro e em novembro, primeiros resultados positivos neste ano.
Por outro lado, a confiança do consumidor não mostrou ímpeto neste período, recuando 1,5% no mês passado ao menor nível desde 2009.
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Segundo o IBGE, o consumo das famílias recuou no trimestre passado 0,3%, marcando três períodos seguidos sem crescer e o pior desempenho desde o quatro trimestre de 2008 (-2%). Na comparação anual houve expansão de apenas 0,1%.
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que está deixando o cargo, a economia brasileira está em processo de retomada "em ritmo ainda modesto".
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Em nota, Mantega disse que o crédito "começa a dar sinais de melhora", mas reclamou que "ainda está aquém do necessário para levar a taxa de crescimento do consumo das famílias para uma situação de normalidade".
"Tecnicamente saímos da recessão. Mas na realidade, é uma estagnação. A expectativa é crescer um pouco mais que zero este ano, mas a questão é que isso é bem menos do que é razoável para nosso país", afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
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A projeção na pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente economistas de instituições financeiras, é de que o PIB crescerá neste ano apenas 0,20 por cento. Se confirmado, será o pior desempenho desde a contração de 0,33% vista em 2009.