Por bruno.dutra
Rio - A combinação de juros altos à pessoa física, baixa confiança do consumidor e famílias endividadas vem atingindo fortemente a indústria de bens de consumo duráveis, que, em novembro, teve retração de 2,1% em sua produção, frente a outubro, e 11%, na comparação com novembro de 2013. Este é o pior resultado dentre as grandes categorias econômicas analisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No geral, a produção industrial caiu 0,7% frente a outubro e 5,8% na comparação com novembro de 2013 — a nona negativa nesse tipo de comparação e a mais forte desde junho (-6,9%).
Dados do Banco Central mostram que a taxa média de juros de crédito não consignado a pessoa física (recursos livres) nunca esteve tão alta, chegando a 103,7% ao ano em novembro. Responsável por produzir itens que tem em sua base a compra a crédito, a indústria de bens de consumo duráveis vêm amargando a pior crise, acumulando retração de 9,1% de janeiro a novembro, e de 8,5% nos últimos 12 meses. Enquanto a indústria em geral tem queda de 3,2% nas duas comparações.
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Ao observar o comportamento do ramo industrial frente a novembro de 2013, as atividades com maiores perdas no ritmo de produção são veículos automotores, reboques e carrocerias, com queda de 14,4%. Logo em seguida aparece os setores de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, que retraiu 14,1%.
Economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério de Souza chama a atenção para a desaceleração da produção de itens que fazem parte da linha branca (geladeiras, fogões, máquinas de lavar e tanquinhos) e da marrom (televisores, aparelhos de som, DVDs e home theaters). Segundo o IBGE, de janeiro a novembro, a produção de produtos da linha branca caiu 4,3% e da linha marrom, 1,6%. Já os móveis, acumulam retração de 7,8%.
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“Mais endividadas e com limitações para lançar mão de crédito, com juros mais altos, as famílias têm reduzido o ímpeto de consumo. Esse comportamento rebate diretamente nesse setor”, observa Rogério de Souza, lembrando que o receio com os rumos da economia também inibe o consumo.
As dúvidas com o futuro do país também é a principal motivação para que os empresários reduzam suas ações e projetos de investimentos. E o termômetro desse comportamento aparece nos resultados ruins da indústria de bens de capital, que registrou retração de 9,7% em novembro de 2014, frente a igual mês de 2013.
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“Bens de capital para indústria, agricultura, transporte e construção têm quedas fortes no acumulado do ano. Apenas os bens de capital para energia e para uso misto, que engloba máquinas e equipamentos de uso diverso, é que se salvam um pouco dessa crise”, aponta Rogério de Souza.
Para o especialista, o resultado pouco animador da indústria nacional em novembro deve levar o setor a fechar o ano de 2014 com um recuo de 3% no nível de produção. A piora do cenário deve se refletir em mais demissões nas fábricas ao longo de 2015. Um sinal de melhora é pensado apenas para o segundo semestre do ano.
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“Só devemos chegar a uma reversão do atual quadro do mercado de trabalho na indústria quando a produção der sinais consistentes de recuperação. Até lá, vamos seguir com um desemprego crescente”, analisa Rogério.