Por bruno.dutra
São Paulo - Apesar das projeções levemente otimistas para 2015, os empresários da indústria têxtil nacional estão apreensivos em relação à crise hídrica, aos apagões e aos ajustes fiscais que vêm sendo empreendidos pela equipe econômica do governo. “Além do ambiente de negócios hostil, há uma falta de previsibilidade que há muitos anos não se via. O maior problema hoje não é o encarecimento das tarifas, mas saber se vai ou não faltar energia — e o mesmo acontece com a água”, afirmou Rafael Cervone, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Segundo ele, os custos com energia aumentaram 40% nos 12 meses e o megawatt/hora que há dez anos custava R$ 60 saltou para R$ 800.
De acordo com Cervone, este ano são esperadas leves altas na produção de têxteis e confecção e um incremento de 0,4% no mercado de varejo de vestuário, superando os resultados de 2014, quando o setor demitiu 20 mil trabalhadores, registrou queda de 2% na produção de roupas, 5% de queda de produção de têxteis, além de um recuo de 6,7% nas exportações, de 30% nos investimentos e de 4,8% no faturamento.
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“Este ano deveremos registrar uma queda no faturamento em dólar, somando US$ 51,5 bilhões contra um montante de US$ 55,4 bilhões em 2014. Acreditamos que haverá uma queda no consumo em 2015, o que contribui para desacelerar a inflação, mas que traz impactos negativos na produção e no emprego. O recuo na demanda por parte do varejo vai contribui para acirrar ainda mais nossa disputa com os importados, por isso também estamos apostando na busca de mercados alternativos para exportação”, diz, mencionando que houve um recuo nos embarques de produtos têxteis para a Argentina — principal mercado consumidor da produção brasileira — que recuou de uma receita de US$ 328,7 milhões em 2013 para US$ 273,8 no ano passado. “Essa queda não ocorreu por causa da crise ou de novas barreiras protecionistas do país vizinho, ocorreu porque a Argentina substituiu as importações do Brasil pelas da China”, frisa.
O presidente da Abit disse que a indústria têxtil espera um aumento da carga tributária e que já se reuniu com o ministro Armando Monteiro para defender a manutenção da desoneração da folha. “Mostramos o impacto da desoneração e ele reconheceu a importância. O incentivo fiscal não foi aquele que esperávamos, mas foi muito importante para garantir que o desempenho do setor não fosse ainda mais negativo em 2014”, argumenta.
Rafael Cervone disse que a queda nos preços do algodão e do petróleo — utilizado na fabricação de fios sintéticos — talvez não compense o aumento dos custos decorrentes dos aumentos dos custos de energia e dos impostos.
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