Por diana.dantas

Após registrar médias anuais de crescimento de 10% na última década, sem se preocupar muito com os concorrentes chineses, o polo calçadista do Cariri, localizado nos municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, no Ceará, pode perder o ritmo este ano. De janeiro a março, o núcleo produtivo totalizou cerca de mil demissões — volume que já corresponde a 7% do estoque de mão de obra empregada no setor, formada por 16 mil trabalhadores em 300 fábricas da região.
De acordo com o Sindicato das Indústrias de Calçados e Vestuários do Juazeiro do Norte (Sindindústria), as demissões estão ocorrendo desde 2014 por causa na queda na atividade econômica e no recuo nas vendas, tanto no mercado externo, quanto interno.

Segundo Antônio Barbosa Mendonça, presidente do Sindidústria, a queda nas vendas no mercado doméstico se deve ao atual comportamento arredio do consumidor. Nos últimos anos, o aumento do poder aquisitivo da classe C foi a principal alavanca de crescimento do polo calçadista do Cariri, especializado em calçados e chinelos de plástico e borracha. Para enfrentar a concorrência dos chineses, o núcleo produtivo chega a lançar dez coleções por ano, enquanto os concorrentes estrangeiros lançam apenas três.

No ano passado o conjunto de indústrias da região fabricou aproximadamente 90 milhões de pares de calçados, dos quais 80% para o público feminino. O polo ocupa a terceira posição no ranking calçadista brasileiro ficando atrás apenas de Franca (SP) e Novo Hamburgo (RS).
Mas as demissões do Cariri não são um evento isolado. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, em fevereiro o Ceará registrou queda de cerca de 2 mil empregos no estoque de trabalhadores com carteira assinada e esse recuo foi influenciada pela redução dos postos de trabalho na indústria da transformação local que demitiu 1.177 trabalhadores. Somente em Juazeiro do Norte, carro-chefe do Polo do Cariri, o saldo negativo no mês foi de menos 320 empregos.

Para Erle Mesquita, coordenador de Estudos e Análise de Mercado do Sistema Nacional de Emprego do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (Sine/IDT - CE), a retração só não foi maior por causa das outras atividades econômicas da região.

“Em Juazeiro do Norte, as demissões não afetaram significativamente a região, porque o setor de comércio e serviços e o da construção civil conseguiram segurar os índices”, explica.

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