Por diana.dantas

O dólar valorizado tem renovado as esperanças de alguns segmentos da indústria de transformação. Diante da demanda interna mais reprimida e do crítico cenário de crescimento negativo na produção — com retração de 4,5% nos últimos 12 meses segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — a saída para o mercado externo tem sido vista por economistas como uma válvula de escape para a indústria nacional e uma oportunidade para se retomar fluxos de vendas que ficaram esquecidos nos últimos 10 anos, durante o período de apreciação do real.

Estudo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) revela que oito segmentos da indústria de transformação já estão tendo ganhos com a desvalorização cambial, que soma 14,4% no acumulado do primeiro bimestre de 2015 frente a igual período de 2014. Os destaques ficam com os setores de bens de capital, duráveis e semi- duráveis. Na metalurgia, o ganho de rentabilidade chega a 17,2%. No segmento de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores, o ganho é de 16%. Em máquinas e equipamentos, o efeito positivo chega a 11,9%. E no setor de couros e calçados, a 10,2%.

Economista da Funcex, Daiane Santos explica que a análise considera o câmbio de fevereiro, cotado ainda em R$ 2,81 — ontem, a moeda fechou R$ 3,12. “Dependendo do setor industrial, podemos ter um grande empurrão do câmbio. A expectativa é que mais setores industriais mostrem rentabilidade positiva, visto que a previsão é que o real continue se desvalorizando”, afirma.

Especialista do Grupo de Indústria e Competitividade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), David Kupfer, prefere classificar o “efeito da menor apreciação relativa do real” na indústria nacional como um alívio, diante de uma demanda interna mais reprimida. “A desvalorização cambial tem uma força menor do que a valorização do dólar sugere. Há de se observar que outros países também poderão se beneficiar, visto que suas moedas também estão desvalorizadas”, diz.

Embora considere que o real tenha se aproximado de um nível competitivo, Kupfer salienta que o efeito do câmbio não levará a um surto de dinamização da atividade industrial. “A exportação perdeu peso na indústria, com a valorização cambial e o hiato de competitividade. Ainda que o câmbio esteja melhor e as exportações possam ser retomadas, não vejo que esse processo possa dinamizar a atividade industrial. Será muito mais uma válvula de escape para as empresas industriais num clima de retração de mercado interno”, observa.

Chefe da Divisão de Estudos Econômicos do Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), Livio Ribeiro também avalia que a desvalorização cambial vai garantir à indústria uma ajuda artificial. “Esse ganho de competitividade tem que estar ligado a questões estruturais. O que torna um país menos ou mais competitivo são os custos logísticos e unitários do trabalho. Medidas mais consistentes que podem diminuir o que se chama, genericamente, de custo Brasil”, afirma.
Uma nova saída para escoar a produção nacional pode estar em mercados dos Estados Unidos, México e países andinos (Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Chile e Venezuela), como aponta o consultor do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre Brito. Para ele, essa seria uma oportunidade para retomar fluxos de vendas, que ficaram esquecidos durante o período de apreciação do real.

“A exportação não é algo que se faz num estalar de dedos. Deveria ser um projeto permanente na agenda das empresas, mas, olhando para o mercado interno, a exportação precisa sim ser buscada pela indústria”, diz.

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