Por monica.lima

A penetração de insumos e bens finais importados no consumo nacional alcançou o maior patamar em oito anos, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). O coeficiente teve expansão de 22,3% no acumulado dos quatro últimos trimestres, até janeiro/março de 2015. O dado sinaliza que o esperado efeito de estímulo à produção nacional por meio da desvalorização cambial — com o dólar na casa dos R$ 3 — e a substituição de importados levará ainda mais tempo para acontecer e pode ser menos expressivo do que se imagina.

Dentre os 21 setores pesquisados pela CNI, apenas 6 reduziram suas importações de insumos e bens finais: fumo, couro e calçados, derivados de petróleo e biocombustíveis, minerais não metálicos, máquinas e materiais elétricos e outros equipamentos de transporte. Para empresários desses setores, ainda não está claro se a desvalorização cambial trará impactos expressivos sobre uma indústria ainda sem fôlego e com mínima margem para compras.

“A aquisição de insumos importados tem caído, mas não sabemos se a queda vem por uma substituição direta de itens similares e de igual qualidade produzidos nacionalmente, ou porque a demanda da indústria está retraída”, avalia o gerente da área de Economia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Luiz Cézar Rochel.

No primeiro trimestre deste ano, a produção do setor eletrônico caiu 15%, segundo a Abinee. “Com a desvalorização da moeda, a tendência é que a produção local ganhe mercado. Mas perdemos a referência, porque o mercado está frouxo”, acrescenta Rochel, que salienta, no entanto, que mesmo que a desvalorização cambial traga efeitos positivos, esses não devem ser suficientes para reverter a trajetória de queda da produção industrial, com perspectiva de retração de 5% no faturamento real.

Presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso não acredita em um efeito da substituição de importados por nacionais sobre a produção do setor. Segundo ele, a queda de 14% nas importações no 1º trimestre é reflexo do encolhimento do consumo aparente. “Vivemos mais uma inércia do que uma substituição de importados por nacionais. Primeiramente, a mudança cambial não foi significativa. O real ficou competitivo frente ao dólar, mas ante ao euro, não. A desvalorização chegou a apenas 6%”, observa.

Velloso salienta ainda que a volatilidade do câmbio também é um obstáculo ao ganho de competitividade do produto nacional frente ao importado. “O importador ou investidor, quando compra uma máquina, não adota o câmbio do dia, e sim, o menor dentro da volatilidade”, completa.

O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) também credita grande parte da redução nas importações — queda de 21,2% no trimestre — à retração na produção nacional de veículos. De janeiro a abril, o saldo negativo foi de US$ 2,41 bilhões, 30,4% menor que o registrado em igual período do ano passado. 

“É importante destacar que a substituição de importados por nacionais não é um efeito instantâneo e imediato”, defende a economista da CNI Samantha Cunha. “Existe uma certa defasagem, por conta dos contratos. Mas, a longo prazo, espera-se uma queda do coeficiente de penetração de importados, já que os nacionais estão mais competitivos”.

Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas, reitera a avaliação. “Mantida a taxa de câmbio nesse patamar, vamos ativar a substituição de importações. O que pode vir a ser uma fonte de recuperação da indústria nacional”, diz.

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