Por diana.dantas

Rio de Janeiro - Em uma tentativa de recuperar a confiança do mercado, a nova gestão da Petrobras alterou o discurso sobre a autonomia da empresa para definir os preços dos combustíveis. Se antes, a empresa justificava as defasagens com relação ao preço internacional dizendo que sua política de preços previa o “alinhamento no longo prazo”, agora a palavra de ordem são “preços competitivos” com relação ao mercado internacional. “A gente tem sempre falado, queria reiterar novamente, que a companhia tem a liberdade e vai atuar praticando preços competitivos e de mercado”, reforçou ontem, em conferência com analistas de mercado, o diretor financeiro da companhia, Ivan Monteiro.

Os últimos reajustes nos preços da gasolina e do diesel foram realizados no início de novembro de 2014, após meses de embates entre a direção da companhia e seu Conselho de Administração, controlado pelo governo. A empresa havia passado um ano sem qualquer aumento, embora os preços do petróleo tenha atingido picos superiores a US$ 110 por barril no ano passado. O analista Flavio Conde, do site WhatsCall?, calcula que, entre o final de 2011 e o segundo trimestre de 2014, a área de Abastecimento da estatal teve um prejuízo de R$ 60 bilhões com a venda de produtos abaixo do preço de custo.

Com a queda dos preços do petróleo e dos derivados a partir do final do ano passado, o segmento teve lucro de R$ 6 bilhões no primeiro trimestre de 2015, contribuindo de maneira significativa para o desempenho da empresa no período, em que teve lucro líquido de R$ 5,3 bilhões. Neste segundo trimestre, porém, a desvalorização cambial eliminou a diferença e, em alguns momentos, o preço interno da gasolina está mais barato do que as cotações internacionais. Alguns analistas já esperam novos reajustes após o fechamento do segundo trimestre.

“O discurso do ministro Joaquim Levy e de Aldemir Bendine (presidente da Petrobras) é de realinhamento de preços, mas era mais fácil dizer isso no início do ano, quando aqui estava mais caro. Só dá para acreditar vendo”, diz Conde. “A nova gestão é um salto qualitativo em relação à anterior, mas tem que tomar cuidado para não dar sinal errado ao mercado”, alerta Conde. Para ele, 2015 é o “ano ideal” para novos aumentos, seguindo a política de realismo tarifário que elevou as tarifas de energia em mais de 30%. “A inflação já está perdida este ano”, argumenta.

A política de preços da Petrobras foi tema de duas perguntas durante a conferência telefônica de ontem. A grande preocupação dos analistas é que a empresa continua queimando caixa para financiar seus investimentos e precisa reduzir despesas e ampliar receitas para abater parte de sua dívida, que ultrapassa os R$ 400 bilhões. Monteiro disse que a direção da empresa prepara um plano para reduzir o endividamento, que será anunciado junto com o Plano de Negócios da empresa para os próximos cinco anos, em meados de junho.

Monteiro afirmou que a empresa precisa praticar preços que garantam a geração de valor para o acionista. “Não pode ser outra postura da diretoria executiva da Petrobras e não pode ser outra postura que o Conselho de Administração pode esperar da diretoria executiva da Petrobras”, comentou. ele não deu detalhes, porém, sobre como a política de preços será posta em prática. Segundo analistas, a companhia tem sido beneficiada também pela queda nas vendas de gasolina e diesel — o que reduz a necessidade de importações a preços mais altos.

As ações da estatal dispararam no início do pregão de ontem, em reação aos números divulgados na noite de sexta-feira. Os papéis chegaram a subir 4%, mas depois viraram e fecharam em queda de 2,72% (os ordinários) e 1,99% (os preferenciais), seguindo movimento generalizado na bolsa brasileira. A grande preocupação reside na capacidade da empresa reduzir seu endividamento. “Com todos os astros alinhados, ou, em um trimestre com a possibilidade de arbitragem nas importações, a estatal queimou R$ 4,9 bilhões de caixa”, apontou o analista da Empiricus Roberto Altenhofen, em sua newsletter diária, lembrando que a empresa só teve fluxo de caixa positivo em quatro dos últimos 29 trimestres.

“Novamente: as contas da estatal simplesmente não fecham. A geração de caixa operacional (R$ 21,5 bilhões) novamente não foi suficiente para fazer frente aos investimentos (de R$ 17,8 bilhões) mais o resultado financeiro (negativo em R$ 5,6 bilhões), que, juntos somam R$ 23,4 bilhões”, calcula Altenhofen. Citando “incertezas em relação aos reajustes”, dentre outros fatores, o analista Bruno Piagentini, da Coinvalores, lembra que o elevado endividamento da companhia, no contexto atual, mantém o risco de rebaixamento de seu rating. “A variação cambial já ‘comeu’ boa parte deste prêmio (do preço dos combustíveis), que não deve ter a mesma contribuição para os resultados do segundo trimestre”, diz ele.

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