Por bruno.dutra

São Paulo - Cerca de 44% dos brasileiros afirmam que pretendem adquirir bens duráveis no terceiro trimestre do ano, segundo levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), apontando para o pior índice de intenção de compra desses itens no mesmo período do ano desde 2002, quando o Brasil registrou baixos índices de confiança por causa do “efeito Lula” na pré-campanha eleitoral de 2013.

O levantamento estima uma queda de 1,2% nas vendas de bens duráveis do segundo para o terceiro trimestre de 2015. Como bens duráveis, o estudo considerou móveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, automóveis e motos, mas também artigos de vestuário, imóveis e investimentos em viagens e turismo.

De acordo com Cláudio Felisoni de Angelo, presidente da Abevar, essa retração no ímpeto de consumo se deve a uma conjugação de fatores macroeconômicos que resultaram na deterioração das condições de compra. “Depois de pagar todas as suas despesas, em média sobra 6% do orçamento doméstico das famílias. No terceiro trimestre de 2014, esse percentual era de 11% e chegou a ser de 14,8% no mesmo período de 2010”, afirma, mencionando que a inflação, medida pelo IPCA, que atingiu os 8,47% nos últimos 12 meses do ano até maio, vem corroendo gradativamente o poder de compra do consumidor.

De Angelo relembra que o rendimento real médio do trabalhador brasileiro caiu do patamar de R$ 2.245,50 em maio de 2014 para R$2.137,13 no mesmo mês deste ano, registrando um recuo de 4,8%, assim como a massa do rendimento médio do pessoal ocupado que caiu 6% nos primeiros cinco meses deste ano. “Além disso, a taxa média de juros praticada pelo comércio nas compras a prazo aumentou de 78,2% para 82,6% nos últimos 12 meses até maio. Isso quer dizer que a política econômica do governo de aumento da taxa de juros para conter a inflação tem surtido pouco efeito”, frisa.

A pesquisa realizada pelo Ibevar, em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA) e o Programa de Administração do Varejo (Provar), aponta ainda que houve também uma deterioração na expectativa do desemprego entre os brasileiros. Quase 49% dos entrevistados acreditam que podem ficar desempregados no curto prazo ou que terá dificuldade de encontrar uma nova colocação no mercado de trabalho (no caso daqueles que já estão sem emprego). “O fantasma do desemprego vem assombrando um número maior de pessoas por causa das notícias sobre demissões na indústria e no comércio. Esse é o maior índice de expectativa de desemprego registrado nos últimos três anos”, diz o executivo.

O presidente do Ibevar explica que por causa dos indicadores macroeconômicos desfavoráveis as vendas do varejo ampliado medido pelo IBGE (que inclui o desempenhos dos segmentos de materiais de construção e automóveis) já registraram queda de 6,2% nos primeiros quatro meses do ano no comparativo com o mesmo período de 2014, quando chegou a registrar crescimento de 1,9% no comparativo do primeiro quadrimestre do ano passado com o de 2013.

Outro aspecto curioso do levantamento é que ele revela que houve um aumento nas despesas com educação no orçamento dos brasileiros que subiu de 14% no terceiro trimestre de 2010 para 29% no terceiro trimestre deste ano. “Acreditamos que essa alta está relacionada ao investimento na qualificação profissional para melhorar as condições de empregabilidade”, afirma Claudio Felisoni de Angelo. Além disso, o percentual de pessoas que dizem que conseguiram poupar caiu de 21% para 16,6% no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2014, confirmando que tem sobrado menos dinheiro da receita doméstica para investir ou comprar.

O estudo mostra que há uma prédisposição maior do consumidor em adquirir roupas e calçados no terceiro trimestre do ano, indicado por 18% dos consumidores. Pouco mais de 7% afirmam que pretendem fazer a aquisição de produtos da linha branca, mesmo percentual verificado para aquisição de móveis e aparelhos de telefone celular.

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