Por monica.lima

Mais uma vez, chamou atenção no resultado do Produto Interno Bruto (PIB, divulgado sexta-feira) a trajetória da taxa de investimentos. Retroagimos aos níveis de 2006, quando o indicador, que representa o motor da economia, correspondia a 16,4% do PIB. O item apresentou recuo de 5,3% na comparação com o trimestre anterior, e 11,2% sobre o mesmo período em 2013. Para Cristiano Oliveira, do Banco Fibra, a persistente queda do investimento, que se iniciou em 2010, já compromete a capacidade da economia brasileira de crescer no longo prazo, algo desejável para um país de renda média como o Brasil. Ficamos cada vez mais longe de uma taxa de investimento razoável para uma economia emergente, segundo ele, na casa dos 23% do PIB.

Oliveira acredita que o quadro de estagnação da atividade deve prolongar-se até o fim do ano. Seguindo tendência geral, o economista já ajustou suas previsões para a atividade econômica de 2014. “Esperamos agora crescimento nulo da economia brasileira este ano, a despeito do crescimento moderado da economia mundial”, diz ele. Antes, seu banco trabalhava com uma expansão de 0,5%. “Esse resultado é em parte decorrente da forte queda do índice de confiança dos principais setores da economia — indústria, serviços, comércio e construção civil”, diz Oliveira, que acredita que há um mau gerenciamento da economia.

A influência dos dias úteis

Sempre disposto a testar as hipóteses do momento, o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, faz um interessante exercício sobre o efeito do número de dias úteis sobre o comportamento da economia neste ano. Expurgada a influência do menor número de dias úteis no primeiro semestre, o primeiro trimestre teria mostrado um resultado positivo. Ou seja, não estaríamos em um quadro de “recessão técnica” (dois trimestres consecutivos de retração no PIB). Mas o expurgo não livra o país da contração registrada no segundo trimestre. “Mesmo tomando esse cuidado analítico, a tendência de perda de fôlego da atividade econômica brasileira é bastante clara — embora o quadro pareça estar algo distante de uma recessão propriamente dita”, avalia o economista. “O quadro atual se assemelha mais a uma estagnação, como aquela observada entre meados de 2011 e o começo de 2012”, completa.

Da mesma forma que o expurgo do efeito dias úteis ajuda a melhorar o segundo trimestre, ele piora as projeções para o terceiro trimestre, quando a economia operará com menos feriados. Pelos cálculos do economista, caso esse contexto não estivesse presente, as projeções da LCA apontariam um PIB estagnado no trimestre atual. Por causa do maior número de dias úteis em relação ao trimestre anterior (eles passam de 59 para 65), o terceiro trimestre deverá apresentar uma expansão de 0,8% em comparação ao mesmo período de 2013. “O trimestre corrente deverá apresentar a maior oscilação percentual positiva de dias úteis desde 2000, da ordem de 10%”, registra ele.

Em tempo: a LCA também deverá revisar suas previsões em decorrência da surpresa negativa causada pelo PIB no segundo trimestre. Um pouco mais generosa que a projeção do banco Fibra: antes em 1%, a nova estimativa deverá ficar em torno de 0,7%. Uma das causas da retração, diz Bráulio Borges, está na queda da demanda produzida a partir de uma conjunção de fatores: “Ela reflete os efeitos contracionistas do aperto de política monetária empreendido pelo Banco Central desde o começo de 2013, que foram potencializados pelo quadro de confiança de consumidores e empresários em níveis bastante deprimidos”, analisa Borges. A queda de confiança, para ele, é decorrente de vários fatores, dentre eles, o próprio arrocho monetário, os efeitos do risco de racionamento de energia elétrica e o descontentamento crescente com a política econômica. Para Borges, as exportações também não estão contribuindo ainda para a melhora na atividade. Excluídos os “ruídos estatísticos” causados, por exemplo, pela exportação contábil de plataformas de petróleo, o quadro geral aponta relativa estagnação das exportações brasileiras desde 2011. Além disso, a despeito das críticas que vêm sendo feitas à atual política fiscal, o economista demonstra em seus estudos que a contribuição dos gastos públicos para a atividade econômica é cada vez menor.

Tudo somado, Bráulio Borges aponta um fato importante: “O hiato do produto (variável que busca mensurar, de maneira agregada, o grau de aperto na utilização dos fatores produtivos de uma economia) encerrou o 2º trimestre em terreno claramente desinflacionário, algo que não era observado desde meados de 2009”. Ou seja, a ociosidade da economia como um todo chegou a um grau tal que passará a exercer, passado algum tempo, uma influência desinflacionária sobre o comportamento de preços e salários.


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