Por monica.lima

O Brasil deve fechar este ano com cerca de US$ 63 bilhões líquidos em investimentos estrangeiros diretos (IED) líquidos (entradas subtraídas de remessas). É um volume significativo, mas não se deve esperar dele aquilo que não pode dar. “O que alavanca o crescimento é o investimento privado doméstico e o investimento do governo”, diz o professor da PUC-SP e consultor Antônio Correa de Lacerda. Isso ocorre, entre outros motivos, porque boa parte dos ingressos é destinada à aquisição de plantas já existentes, não representando acréscimo na riqueza do país. “Em todo o mundo, de forma geral, os investimentos estrangeiros representam em torno de 15% do total de investimentos. No Brasil não é muito diferente”, afirma Lacerda.

Nos últimos cinco anos, a entrada líquida de recursos estrangeiros dirigidos ao setor produtivo vem se mantendo acima de 2% do PIB. Em 2014, tudo indica que não será diferente. Apesar do baixo crescimento e da perda da credibilidade da política fiscal, o país continua figurando entre os cinco principais destinos de investimentos internacionais. Para o economista, o comportamento é um indicador de interesse no mercado consumidor interno brasileiro. “O investidor não enxerga 2015, mas sim 2025”, aponta Lacerda. Ou seja, os estrangeiros não estariam comungando da tese de que está esgotado o modelo de crescimento baseado no consumo. Por outro lado, priorizar o investimento doméstico se mantém como desafio principal da próxima gestão da presidenta Dilma Rousseff.

A reboque da China

Os economistas Bertrand Gruss e Fabiano Rodrigues Bastos, do Fundo Monetário Internacional (FMI), decidiram medir o impacto das surpresas (positivas ou negativas)no crescimento da China sobre outras economias, aos olhos do mercado. A dupla examinou o comportamento da taxa de câmbio de diversos países imediatamente após a divulgação de alguns indicadores econômicos chineses importantes. De um grupo de 26 países, o Brasil apresenta a segunda maior sensibilidade, atrás apenas da Polônia. Em terceiro lugar está o Chile, seguido de Turquia, África do Sul e Noruega. Verificaram que é “grande e significativa” a reação das taxas de câmbio de países da América Latina e de alguns outros emergentes a surpresas na evolução da taxa de crescimento industrial da China.

Os pesquisadores apontam dois motivos. No caso do Brasil e do Chile, a explicação está na forte dependência desses países da exportação de commodities, como ferro e cobre. Como o gigante asiático é hoje o principal importador de commodities, em especial da América Latina, um choque na China (uma boa ou má notícia econômica, por exemplo) mexe de imediato na taxa de câmbio dos integrantes do grupo commodity-dependentes. Exportadores de commodities de outras regiões, como a Noruega (um dos principais exportadores de petróleo do mundo), também são atingidos. Os choques chineses também atingem economias emergentes como México, Polônia e Turquia, cujas moedas são muito utilizadas por investidores para ajustar exposições a mercados emergentes.

Para chegar às conclusões, os economistas analisaram a variação do câmbio dos países pesquisados de março de 2005 a setembro de 2014 nos cinco dias após a divulgação de indicadores chineses que divergiram das expectativas do mercado.

O texto inclui uma advertência. Mesmo que a desaceleração chinesa se desenrole sem sobressaltos, a procura de certas matérias-primas, como os metais, pode cair em escala superior ao que já se espera atualmente e já se encontra embutido nos preços. Portanto, que os commodity-dependentes estejam preparados.

Campeão de custos

Uma análise comparativa realizada pela RC Consultores, do economista Paulo Rabelo de Castro, mostra que o Brasil é o país com pior relação entre custo de financiamento e tamanho de dívida pública em um grupo de 27 países selecionados. Com uma dívida pública líquida em torno de 35% do PIB, o Brasil gastava, em 2012, 5% do PIB para rolá-la junto ao mercado. O percentual continua válido. Países com dívidas líquidas de tamanho semelhante (entre 30% e 45% do PIB, pagavam muito menos: Holanda, em torno de 1,4%; Polônia, 2,4% e Canadá, 0,5%. Já o grupo de países com custos de rolagem semelhantes aos do Brasil ostentavam dívidas bem maiores. O custo da Itália chegava a 5,1% de seu PIB em 2012, mas sobre uma dívida líquida duas vezes maior, em torno de 100% do PIB. A Grécia, um caso extremo, tinha gastos com juros e rolagem perto dos 5% do PIB, mas sua dívida líquida superava os 150% do PIB. A Espanha, com uma dívida correspondente a 75% do PIB, arcava com juros equivalentes a 2,5% do PIB. A dívida brasileira é cara para o seu tamanho, reflexo direto do nível da taxa de juros, que embora tenha caído significativamente nos últimos anos, ainda se mantém entre as mais elevadas do planeta.

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