Jair Bolsonaro defendeu o fim do confinamento em massa e chamou a Covid-19 de
Jair Bolsonaro defendeu o fim do confinamento em massa e chamou a Covid-19 de "resfriadinho"TV Brasil
Por MARTHA IMENES
Na mira do Supremo Tribunal Federal (STF), de especialistas na área de saúde, de partidos de oposição e até de aliados, o presidente Jair Bolsonaro, parecendo ignorar a gravidade da situação, voltou a defender o fim do isolamento social para conter o avanço do coronavírus. Mas, em pronunciamento na noite de ontem, Bolsonaro evitou tocar no assunto. O presidente citou, fora de contexto, trechos da fala do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, sobre os impactos na economia. No momento da transmissão presidencial, panelaços e gritos de "Fora Bolsonaro" foram ouvidos em várias regiões do Brasil.

Mais cedo Bolsonaro disse que o diretor da OMS "apoiava" a volta de informais ao trabalho. O que foi rebatido pelo próprio diretor-geral em sua conta no Twitter: "Pessoas sem fonte de renda regular ou sem qualquer reserva financeira merecem políticas sociais que garantam a dignidade e permitam que elas cumpram as medidas de saúde pública para a Covid-19 recomendadas pelas autoridades nacionais de saúde e pela OMS".

Ontem, aliados de Bolsonaro publicaram em redes sociais o discurso editado e fora de contexto do diretor-geral da OMS para dar a entender que o africano apoiava o fim do isolamento. Na verdade, Adhanom citou a preocupação com pessoas isoladas em lugares mais pobres que têm que trabalhar diariamente para ganhar o "pão de cada dia". Frase que foi citada, erradamente, por Bolsonaro no pronunciamento. O presidente omitiu que Adhanom cobrou dos governos medidas para garantir a renda da população mais pobre com a crise do coronavírus.

Processo em Haia não existe
Como faz todos os dias, Bolsonaro foi cumprimentar apoiadores que ficam na porta do Palácio do Planalto, contrariando as recomendações da OMS e de autoridades sanitárias de evitar aglomerações. "Quando eu comecei a falar isso (sobre o fim do isolamento social), entraram até com processo no Tribunal Penal Internacional contra mim, me chamando de genocida. Eu sou um genocida por defender o direito de você levar um prato de comida para tua casa", disse Bolsonaro a apoiadores, apesar de não haver um processo formalizado até o momento.

Adversário de Bolsonaro, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), afirmou nos últimos dias que vai denunciar o presidente ao Tribunal de Haia, classificando-o como um "autor de crime contra a humanidade".
Já o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), disse que a atitude do presidente de contrariar as recomendações da OMS podem levá-lo a responder por crime em Haia e lembrou que o Brasil é signatário da organização.

Ataque à imprensa na porta do Planalto
Cumprindo o seu ofício, jornalistas que estavam na porta do Planalto foram, mais uma vez, alvo falta de educação de Bolsonaro. Quando os repórteres perguntaram sobre as recomendações do Ministério da Saúde para manter o isolamento, o presidente apontou para um apoiador e ordenou que continuasse falando. "É ele que vai falar, não é você não", afirmou a um repórter o que provocou gritos da claque que o segue. Alguns repórteres deram as costas e o presidente disparou: "Ó, a imprensa que não gosta do povo".

Para o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Paulo Jerônimo de Sousa, Bolsonaro não está à altura do cargo que ocupa: "Em meu nome pessoal e em nome da ABI, presto integral solidariedade aos jornalistas que, na porta do Palácio, reagiram a mais uma grosseria do presidente Jair Bolsonaro, personagem que, mais uma vez, mostra que não está à altura do cargo que ocupa".
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Número de mortos no Brasil vai a 201. Presidente critica Moro
Moro: Força Nacional à disposição
Moro: Força Nacional à disposição Marcelo Camargo / Agência Brasil
A crise do coronavírus é o mais novo componente da tumultuada relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, que colocou a Força Nacional de Segurança à disposição do Ministério da Saúde para ajudar no combate à expansão da pandemia no Brasil que, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados ontem, apontam que o Brasil tem 201 mortes por coronavírus e 5.717 casos confirmados da doença. A taxa de letalidade está em 3,5%.

De acordo com a Agência Estado, o presidente tem reclamado do ex-juiz da Lava Jato é "egoísta" e não atua para defender suas posições no enfrentamento às medidas restritivas tomadas por estados e municípios.

Em conversa com interlocutores, Bolsonaro reclamou da postura do ex-juiz, dizendo que o ministro "só pensa nele" e "não está fazendo nada" para ajudar o governo na batalha que o presidente trava com governadores e até mesmo com as recomendações do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Em São Paulo, subiu para 136 o número de mortes. Os casos notificados também registraram maior aumento até aqui: de 1.517 para 2.339 no estado, alta de 54%.