Bolsonaro costuma falar com a imprensa na saída do Alvorada e receber o apoio de eleitores durante as manhãs - Reprodução/Facebook
Bolsonaro costuma falar com a imprensa na saída do Alvorada e receber o apoio de eleitores durante as manhãsReprodução/Facebook
Por O Dia
O Brasil caiu duas posições no ranking anual de liberdade de imprensa divulgado pela ONG Repórteres sem Fronteiras desde 2002. A queda na colocação, segundo a ONG, foi motivada pela atitude hostil do presidente Jair Bolsonaro aos veículos de imprensa desde o início da pandemia de coronavírus e o ódio a jornalistas encorajado por parte de seus apoiadores.

Divulgado anualmente pela ONG Repórteres sem Fronteiras, que promove a liberdade de imprensa e o direito da população à informação, o ranking monitora 180 países e se tornou uma referência para a diplomacia e para organizações internacionais como a ONU e o Banco Mundial.

O Brasil ocupa a posição 107 da lista. Essa é a segunda queda consecutiva: no ano passado, o Brasil havia descido três lugares devido ao clima anti-imprensa das eleições presidenciais de 2018 e ao assassinato de quatro jornalistas no período.

“Os jornalistas brasileiros, e sobretudo as mulheres, estão cada vez mais vulneráveis e são regularmente atacados por grupos promotores de ódio e por apoiadores do presidente, em particular nas redes sociais”, aponta o relatório, sem especificar nomes, acrescentando que repórteres dos meios de comunicação mais importantes do país são alvos frequentes.

Apesar de ser considerado pelo estudo um antimodelo no tratamento dado à imprensa, os Estados Unidos (45) subiram três posições em relação à 2019, saindo da faixa “problemática” e ingressando na “satisfatória”.

O relatório não explica os motivos da melhora, ao passo em que enumera razões problemáticas: Trump ataca jornalistas durante suas entrevistas coletivas sobre coronavírus, e repórteres que fazem a cobertura da complicada fronteira do país com o México passaram a ser assediados com muita frequência por autoridades aduaneiras.

Quando vistos em conjunto, os dados do relatório são alarmantes: mais de 60% dos países do mundo estão em situação que a entidade considera “problemática” ou “muito difícil”, e 12,9% caem na pior categoria, chamada de “muito séria”. Apenas 8% das nações gozam de boa liberdade de imprensa —nenhuma da África— e 18% de satisfatória.

Países hispânicos
À exceção do Uruguai (19), a situação é complicada para os países hispânicos: o relatório aponta dezenas de agressões a jornalistas que participaram da cobertura dos protestos recentes contra os presidentes Lenín Moreno, do Equador, e Sebastián Piñera, do Chile, e reportaram a turbulenta eleição presidencial boliviana de 2019.

Quase não há novidades nos extremos da lista. Noruega (1) e Finlândia (2) ocupam, pelo segundo ano seguido, as primeiras colocações, seguidas pela Dinamarca (3), que subiu dois pontos, e pela Suécia (4), que caiu um.

O pior país para um jornalista é a fechada Coreia do Norte (180), que tomou o lugar do Turcomenistão (179), onde o ditador proibiu o uso da palavra coronavírus. A pandemia provocou medidas restritivas em relação à imprensa em países fortemente afetados pela Covid-19, aponta o estudo.
Em antepenúltimo lugar, a China (177) instaurou um massivo sistema de censura, bem como o Irã (173).

No Iraque (162), a agência de notícias Reuters teve sua licença suspensa após publicar uma notícia questionando os números de infectados divulgados pelo governo.
“A crise sanitária é uma oportunidade para governos autoritários implementarem a famosa ‘doutrina do choque’: tirar proveito da neutralização da vida política, do espanto do público e do enfraquecimento da mobilização para impor medidas impossíveis de adotar em tempos normais”, afirma Christophe Deloire, secretário-geral da Repórteres sem Fronteiras.