Presidente Bolsonaro contraria recomendações da OMS para conter a covid-19 e articipa de manifestações em Brasília - AFP
Presidente Bolsonaro contraria recomendações da OMS para conter a covid-19 e articipa de manifestações em BrasíliaAFP
Por O Dia
O domingo de sol em Brasília foi palco - mais uma vez - de irresponsabilidade e manifestações contrariando as recomendações sanitárias. O dia ontem seria só mais um de irregularidades se o presidente Jair Bolsonaro não tomasse novamente atitudes antidemocráticas, justamente no dia que se comemora a Liberdade de Imprensa. Bolsonaro participou de manifestação em favor de seu governo e repleta de palavras de ordem contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"O que nós queremos é o melhor para o nosso país, a independência verdadeira dos Três Poderes, não apenas uma letra da Constituição. Chega de interferência, não vamos mais admitir interferência, acabou a paciência. Vamos levar esse Brasil para frente", disse.

O presidente afirmou que a manifestação organizada em Brasília é espontânea, com chefes de família, "pela governabilidade, democracia e liberdade". Foram essas "pessoas de família" que agrediram a chutes, socos e pontapés, além de palavrões, uma equipe do Estadão que estava no local exercendo seu ofício. Ele afirmou também que tem o povo ao seu lado e as Forças Armadas ao lado do povo pela "lei, ordem, democracia e liberdade. Bolsonaro disse ainda que "chegou no limite" e "daqui para frente não tem mais conversa" e a Constituição "será cumprida a qualquer preço".

"Vocês sabem que o povo está conosco, as Forças Armadas ao lado da lei, da ordem, da democracia, liberdade também estão ao nosso lado. Vamos tocar o barco, peço a Deus que não tenhamos problema nessa semana, porque chegamos no limite, não tem mais conversa, daqui para frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição, ela será cumprida a qualquer preço. Amanhã (hoje) nomeados novo diretor da PF, e o Brasil segue seu rumo", escreveu nas suas redes sociais.

Agressão a jornalistas fere democracia
As agressões aos profissionais do Estadão provocaram reação de vários segmentos: "Quem transgride e ofende a liberdade de imprensa, ofende a Constituição, a democracia e a cidadania brasileira", advertiu a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia. "Os limites que existem são os da Constituição, e valem para todos, inclusive e sobretudo para o presidente. A única paciência que chegou ao fim, legitimamente e com razão, é a paciência da sociedade com um governante que negligencia suas obrigações, incita o caos e a desordem, em meio a uma crise sanitária e econômica", disse Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que cabe às instituições democráticas impor a "ordem legal a esse grupo que confunde fazer política com tocar o terror".
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) se solidariza com os agredidos e protesta e chama a atenção da sociedade para a perigosa escalada da agressividade e da violência dos seguidores do presidente Bolsonaro, não só em relação a profissionais de imprensa como a autoridades da República e opositores."

Bolsonaristas protestam na porta de ministro
Um grupo de manifestantes pró-Bolsonaro fez um protesto no sábado em frente ao prédio onde o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, tem residência, em São Paulo - o magistrado suspendeu a nomeação do novo diretor da Polícia Federal que tinha sido definida pelo presidente Jair Bolsonaro.

Com uso de um megafone, cerca de 20 manifestantes, com carros parados na calçada cobertos com a
bandeira do Brasil, xingavam Moraes e pediam para que ele descesse até a rua. O ministro foi chamado de "comunista que não gosta de polícia" e que estava "com medo do Ramagem".
As agressões e ameaças contra o ministro têm origem em sua decisão tomada na quarta-feira, 29. Poucas horas antes da cerimônia de posse do novo diretor-geral da PF, Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro, Moraes suspendeu a nomeação.

Moro diz que há lealdades maiores do que as pessoas
O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro utilizou as redes sociais para afirmar que 'há lealdades maiores do que as pessoais' após ter sido chamado de 'Judas' por Jair Bolsonaro e apoiadores do governo. Na noite de sábado, o ex-juiz da Lava Jato concluiu depoimento de mais de oito horas no inquérito que apura suas acusações de interferência na PF.

Moro acusou Bolsonaro de trocar o comando da PF para obter informações e relatórios sigilosos de investigações ao anunciar demissão. O Planalto se preocupa com o andamento de inquéritos que apuram esquemas de divulgação de 'fake news' e financiamento de atos antidemocráticos realizados em abril.

O inquérito foi aberto a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, e corre sob relatoria do ministro Celso de Mello, decano da Corte. Tanto Moro quanto Bolsonaro são investigados.