Fabrício Queiroz, que está preso, trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj e teria comandado o esquema de 'rachadinhas'Arquivo Pessoal
Por MARTHA IMENES
Publicado 18/05/2020 06:00 | Atualizado 18/05/2020 10:06

O suposto esquema de Fabrício Queiroz, aquele assessor do então deputado Flávio Bolsonaro, que anda meio sumido, voltou a assombrar o clã Bolsonaro. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o empresário e suplente do senador, Paulo Marinho, afirmou que Flávio foi avisado com antecedência por um delegado da Polícia Federal sobre a Operação Furna da Onça. O policial teria avisado sobre a ação porque atingiria assessores de Flávio. O delegado teria afirmado que iria "segurar" a operação para não prejudicar a campanha de Bolsonaro à Presidência. Ele venceu as eleições em 28 de outubro e a Furna da Onça foi em 8 de novembro.

Segundo Marinho, o coronel Miguel Braga, chefe de gabinete do parlamentar, acompanhado do advogado Victor Alves e de Val Meliga, ex-presidente do PSL no Rio, encontraram o delegado na porta da Superintendência da PF, na Praça Mauá.

Segundo Marinho, ele encontrou os três na calçada e fez a seguinte afirmação: "Vai ser deflagrada a Operação Furna da Onça, que vai atingir em cheio a Assembleia Legislativa do Rio. E essa operação vai alcançar algumas pessoas do gabinete do Flávio. Uma delas é o Queiroz e a outra é a filha do Queiroz (Nathalia), que trabalha no gabinete do Jair Bolsonaro (na época deputado federal) em Brasília". "Nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição", teria dito o delegado.

O empresário afirma que o policial, que se identificou como adepto e simpatizante da campanha presidencial, recomendou providências e essas vieram na forma das demissões de Queiroz e sua filha, em 15 de outubro de 2018.

De acordo com Marinho, as revelações foram feitas a ele por Flávio, em 13 de dezembro de 2018. O presidente Bolsonaro foi informado da situação por Gustavo Bebbiano, já falecido. Flávio nega e, em nota, afirma que: "Ele (Paulo Marinho) sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão". Diante da delação, Paulo Marinho pediu proteção. O Queiroz ninguém sabe por onde anda, mas sua "sombra" paira sobre o clã.


Documento do Coaf reforça versão
Um relatório produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre casos de movimentação financeira fora do padrão de servidores da Assembleia do Rio de Janeiro (Alerj) reforça a versão divulgada por Paulo Marinho, de que a PF sabia de irregularidades envolvendo Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj em 2018.

O documento do Coaf foi elaborado em janeiro daquele ano e enviado ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal. Ele faz parte da documentação que deu origem à Operação Furna da Onça.
Queiroz seria o principal operador do esquema - segundo relatório do Coaf, ele movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

Para Pimenta, policial é o Ramagem
Em sua conta no Twitter, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) diz ser possível que o policial federal que antecipou a investigação ao senador seja o delegado Alexandre Ramagem, indicado por Bolsonaro à direção-geral da PF. Isso porque a Operação Furna da Onça foi continuação da Operação Cadeia Velha, coordenada por Ramagem em 2017.

Pimenta publicou uma cronologia, que, segundo ele, comprovaria a interferência da família Bolsonaro sobre a PF. O deputado diz que já havia alertado sobre o suposto vazamento da Operação Furna da Onça, que atingiu Queiroz, à família Bolsonaro. Já havia indícios de vazamento da operação desde que ela foi deflagrada, em novembro de 2018.

PGR vai investigar a denúncia
O procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou que vai analisar a denúncia de que o senador Flávio Bolsonaro foi avisado com antecedência sobre uma operação da Polícia Federal que atingiria seu então assessor Fabrício Queiroz.

"O procurador-geral da República analisará o relato junto com a equipe de procuradores que atua em seu gabinete em matéria penal", disse a Procuradoria-Geral da República (PGR), em nota.

 

 


Deputado entra com pedido no STF
Marcelo Calero foi nomeado líder da Secretaria de Governo e Integridade PúblicaDivulgação/Câmara
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O deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ) entrou ontem com uma representação ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, solicitando novas diligências em razão dos fatos noticiados pelo jornal Folha de S.Paulo em entrevista concedida pelo empresário Paulo Marinho, colaborador de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018. As informações divulgadas pelo então apoiador revelaram conexões com a atual investigação no STF, que apura interferências políticas na Polícia Federal.

A ação apresentada pelo deputado tem por objetivo trazer esclarecimentos obre a afirmação de que a Polícia Federal do Rio de Janeiro antecipara a Flávio Bolsonaro, filho do presidente, a informação de que Fabrício Queiroz, seu ex-assessor, e Nathália Melo de Queiroz, sua filha, então assessora de Jair Bolsonaro, seriam alvos de operação policial. A Operação Furna da Onça teria sido adiada para depois do 2º Turno das eleições presidenciais, a fim de blindar Jair Bolsonaro e evitar impacto negativo do caso no resultado das eleições, segundo Paulo Marinho.

Nesse sentido, solicita que sejam ouvidas as personagens mencionadas na entrevista concedida pelo empresário, como os ex-assessores Fabrício Queiroz e Nathalia de Melo Queiroz, os advogados Antonio Pitombo e Vitor Alves, bem como o delegado Alexandre Ramagem, além de que seja expedido mandado de busca e apreensão do telefone celular que pertencera a Gustavo Bebbiano, já falecido, e que conteria provas de interesse da investigação.

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