Grupo Banco Mundial exibiu uma faixa End Racism em sua sede em Washington, DC, em 19 de junho de 2020 - AFP
Grupo Banco Mundial exibiu uma faixa End Racism em sua sede em Washington, DC, em 19 de junho de 2020AFP
Por O Dia

Washington/EUA - A Associação de Funcionários do Banco Mundial enviou uma carta ontem ao Comitê de Ética da instituição pedindo uma investigação sobre o ex-ministro da educação do Brasil, Abraham Weintraub. O grupo que representa os funcionários do organismo internacional quer que a nomeação do brasileiro para assumir uma diretoria executiva do banco fique suspensa até a conclusão desta investigação. O motivo do pedido são falas preconceituosas do ministro sobre a China e minorias, além do posicionamento a respeito da prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

O Banco Mundial acaba de assumir uma posição moral clara para eliminar o racismo em nossa instituição. Isso significa um compromisso de todos os funcionários e membros do conselho de expor o racismo onde quer que o vejamos. Confiamos que o Comitê de Ética compartilhe dessa visão e faremos tudo ao alcance para aplicá-la", afirma a associação de funcionários. O e-mail com o pedido de investigação foi direcionado a dois membros do Comitê de Ética do banco - Guenther Schoenleitner e Larai Shuaibu - e encaminhado a todos os funcionários da instituição.

Weintraub foi indicado pelo Ministério da Economia para assumir a diretoria-executiva que representa o Brasil e mais oito países no banco. Sua confirmação depende de eleição interna do grupo, mas é considerada meramente protocolar, já que o Brasil tem mais de 50% do poder de voto e por isso pode emplacar o nome que desejar para a função. Não houve até o momento oposição formal por parte dos outros países que formam o consórcio junto com o Brasil, que são Colômbia, Filipinas, Equador, República Dominicana, Trinidad e Tobago e Suriname.

Tuíte com carga racial
Na carta enviada ao Conselho de Ética, os funcionários do Banco Mundial afirmam que, "de acordo com múltiplas fontes, o senhor Weintraub publicou um tuíte de carga racial, ridicularizando o sotaque chinês e culpando a China pela covid-19, e acusando os chineses de 'dominação mundial'; levando a Suprema Corte a abrir uma investigação por crime de racismo".

O documento também cita que Weintraub sugeriu que ministros do Supremo Tribunal Federal deveriam ser presos, conforme vídeo da reunião ministerial de 22 abril passado. A associação de funcionários também alega que ele diz abertamente ser contra a proteção dos direitos de minorias e a promoção de igualdade racial e salienta que seu último ato como ministro da Educação foi revogar diretrizes para promover cotas para afrodescendentes e povos indígenas no ensino superior. Ele já disse odiar o termo "povos indígenas".


Ex-ministro responderá na Justiça comum
Weintraub responde a uma investigação que apura suposto crime de racismo contra chineses
Weintraub responde a uma investigação que apura suposto crime de racismo contra chinesesLula Marques/Fotos Publicas
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O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub não tem mais foro privilegiado na Corte e enviou o inquérito sobre racismo que corre contra o ex-ministro à 1ª instância. Weintraub responde a uma investigação que apura suposto crime de racismo contra chineses. O ministro do Supremo pediu que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste sobre qual deve ser o órgão responsável para dar prosseguimento à apuração na 1ª instância.

Em 4 de abril deste ano, Weintraub usou uma imagem de gibi para atacar a China. Em referência ao personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, ele fez chacota do sotaque asiático e escreveu que o governo chinês sai fortalecido após a pandemia. A publicação de Weintraub gerou reação da embaixada da China. Em carta pública, a instituição afirmou que a declaração de Weintraub tem "cunho fortemente racista".

Em 14 de abril, a PGR pediu abertura de inquérito no STF. Em documento, o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, pediu a investigação sobre "manifestação depreciativa, com a utilização de elementos alusivos à procedência do povo chinês".
Weintraub saiu do Ministério da Educação na última semana e viajou às pressas para os EUA. Dias antes de sair da pasta, ainda provocou mais uma vez a China, em uma publicação que faz piada sobre a parceria de um laboratório chinês com o governo de São Paulo.