Brasília - Análise elaborada pela Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República conclui que o país passa por “caos político”, no qual os apoiadores da presidenta Dilma Rousseff estão levando uma “goleada” da oposição nas redes sociais e admite que “não será fácil virar o jogo”. O documento, sigiloso, aponta vários erros de comunicação desde o primeiro governo de Dilma, além do impacto negativo da nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda junto à militância petista, e deveria circular apenas entre ministros e lideranças do PT.
O vazamento foi noticiado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e gerou forte desconforto no Palácio do Planalto, o que deve acelerar a saída do ministro-chefe da Secom, Thomas Traumann. Até o fechamento desta edição, a Secom informava que não tinha conhecimento de tal documento e estava levantando as informações. Fontes próximas à Secretaria, porém, confirmaram a veracidade do documento.
Traumann viajou ontem, em agenda pessoal. Em dezembro, durante a montagem do novo governo, o ministro havia entregado o cargo, alegando questões pessoais. Diante da falta de nomes interessados em substituí-lo, a presidenta pediu que ele permanecesse. Mas ele não se sente confortável com as constantes críticas de que falta no governo uma estratégia de comunicação, o que teria agravado a crise política pela qual passa o governo.
Segundo o “Estado de S. Paulo”, o documento circulou ontem entre ministros e dirigentes petistas, inclusive auxiliares do ex-presidente Lula. Alguns ministros do núcleo político de Dilma e líderes petistas procurados pelo Brasil Econômico negaram ter tido acesso ao texto. Trechos publicados pelo jornal mostram que a Secom sugere, como estratégia para reverter o quadro, investimentos maciços em propaganda oficial na cidade de São Paulo, administrada pelo petista Fernando Haddad e que foi palco da maior de todas as manifestações de domingo, com cerca de 1 milhão de pessoas, segundo a Polícia Militar paulista.
O documento cita ainda, “em tom de alerta”, pesquisa telefônica recente feita pelo Ibope, sob encomenda do Palácio do Planalto, que mostra que 32% dos entrevistados disseram que desde a eleição em outubro mudaram de opinião — para pior — sobre o governo Dilma Rousseff.
A análise é dividida em três capítulos: “Onde estamos”, “Como chegamos até aqui” e “Como virar o jogo”. Qualifica a comunicação do governo Dilma como “errada e errática”, mas ressalta que “a crise é maior que isso”. Destaca, por exemplo, que a indicação de Levy para a Fazenda e o pacote de ajuste fiscal causaram um “descolamento entre o governo e sua militância”. Utiliza a palavra “desastrado” para qualificar o anúncio dos cortes do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e do aumento do preço da gasolina e das tarifas de energia elétrica. “Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá ou sua conta de luz saltar em 33%”, diz o documento, segundo o jornal.
A análise da Secom aponta que entre os dilmistas há um “sentimento de abandono e traição” e que a estratégia atual de comunicação atinge somente o eleitorado da presidenta, e não o conjunto da população: “O governo e o PT passaram a só falar para si mesmos”, afirma o documento.
O texto revela que a comunicação governista usou “robôs” (programas para disseminar mensagens favoráveis a Dilma pelas redes sociais) durante a campanha eleitoral, mas depois abandonou o recurso, enquanto o PSDB continuou utilizando o mesmo artifício após a eleição: “Cerca de 50 robôs usados na campanha de Aécio continuaram a operar mesmo depois da derrota em outubro. Isso significou um fluxo contínuo de material anti-Dilma, alimentando os aecistas e insistindo na tese do maior escândalo de corrupção da história (revelado pela Operação Lava Jato)”.