Por bruno.dutra

Brasília - As críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao partido que criou e ao governo da presidenta Dilma Rousseff encontraram eco ontem entre integrantes do PT. Alguns até tornaram oficial a defesa do presidente, como fez a bancada do partido no Senado. Em nota pública, os senadores enalteceram Lula como uma grande liderança, igualando-o aos ex-presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Após Lula ter afirmado, na segunda-feira, que o governo está “no volume morto” e que o PT está “abaixo do volume morto” ou que o seu partido “perdeu a utopia” e precisa de uma “revolução”, renovando os seus quadros, os senadores preferiram, ao invés da defesa do partido ou do governo, denunciar uma “sórdida campanha de deslegitimação dessa grande liderança”.

Para analistas, longe de querer se descolar do PT ou mesmo do governo, Lula orquestra com o próprio partido a defesa prévia de uma temida inclusão de seu nome na lista de políticos a serem investigados no âmbito da Operação Lava Jato. Ontem, tão logo a bancada do Senado divulgou a nota, diversos petistas postaram a mensagem dos parlamentares em seus perfis nas redes sociais. Um dos que compartilharam a nota foi o presidente do partido, Rui Falcão, que deixou patente não ter se incomodado com as declarações do ex-presidente.

“Lula está procurando uma saída pela esquerda na tentativa de recompor a sua liderança dentro do partido e para colocar a esquerda a empurrar o andor dele”, comenta o cientista político Paulo Kramer, ao referir-se a um movimento para a defesa do presidente caso ele seja envolvido na Lava Jato. “A tentativa é de convencer a opinião pública a estabelecer um paralelo entre uma possível prisão de Lula ao sacrifício daquele jovem barbudo, líder sindicalista que se posicionou contra a política salarial na ditadura militar”, opina.

A nota dos petistas no Senado fez o resgate da trajetória política do presidente que nasceu pobre e teve que lutar para sobreviver e chegar à Presidência, para, em seguida, acusar — sem citar nomes de pessoas, instituições ou partidos — uma manobra para impedir a candidatura de Lula em 2018. “Lula se fez contra os terríveis limites históricos, econômicos, sociais e políticos que lhe foram impostos. É aquela criança pobre do sertão nordestino que deveria ter morrido antes dos cinco anos, mas que sobreviveu. É aquele miserável retirante que veio para São Paulo buscar, contra todas as probabilidades, emprego e melhores condições de vida, e conseguiu. Lula é aquele candidato que não deveria ter vencido as eleições, mas venceu”, começa o texto.

“No Brasil, entretanto, há hoje uma sórdida campanha de deslegitimação dessa grande liderança. Uma campanha que dispensa argumentos racionais. Uma campanha baseada apenas no ódio espesso dos ressentidos”, completa. “Tentam fazer hoje contra Lula o que fizeram contra Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Usam cínica e seletivamente da imprescindível luta contra a corrupção para tentar destruir um projeto nacional e popular que elevou o Brasil e o seu povo. Um projeto que propicia o efetivo combate aos desvios e que vem livrando o Brasil da grande corrupção da miséria e das desigualdades”.

Até o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, que deveria defender a presidente Dilma, ratificou as críticas de Lula. “O presidente Lula é militante. É a melhor liderança que temos”, disse. “O PT precisa mudar, e se não renovar e não se reciclar, com toda a experiência que nós temos, vamos ficar para trás”, comentou ao dizer concordar com as posições do presidente.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), por sua vez, foi a única voz a discordar da forma como Lula fez os seus comentários. Ao ser indagado se o ex-presidente errou em suas críticas, Guimarães disse que elas devem ser feitas de maneira “interna, e não pública”, como fez Lula. “Quem fica apregoando essa história de que o PT está no fundo do poço ou está no volume morto ou coisa que o valha tem que esperar as eleições de 2016. Já vi projeções serem feitas e não realizadas”, alfinetou.

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