Por bruno.dutra

Para quem acompanha as pesquisas de opinião, a decisão agride a lógica política e eleitoral. Enquanto Marina alcançou 27% das intenções de votos no último Datafolha, o ex-governador de Pernambuco não passou de acanhados 10%. O único cenário em que a presidente Dilma Rousseff não conseguiria se reeleger no primeiro turno é o que traz a ex-senadora como sua oponente.

Nas demais hipóteses, com Campos e Aécio Neves na cédula, a fatura seria liquidada de cara no domingo 5 de outubro. Dilma tem sofrido desgaste, perdeu ponto nas pesquisas mais recentes, mas os dois principais adversários permanecem empacados. Só Marina seria capaz de mudar esse quadro.

Por mais que a escolha do PSB pareça bizarra, Eduardo Campos confia no que Marina Silva chamou de “casamento da tapioca com o açaí”. Ele garante que sua companheira de chapa terá um papel bem maior do que os vice-presidentes tradicionais. “Ao meu lado você estará não só na campanha, mas no governo”. A ex-senadora faz coro e avisa que não ficará atrás de Campos, mas sim “ao lado” do candidato a presidente.

Para os aliados da nova dupla, o neto de Arraes, daqui para frente, vai se empenhar para transferir para si o balaio de votos de Marina. Se conseguir, terá, de fato, alguma chance. Afinal, a ex-senadora, com pouco tempo na TV e campanha franciscana, abocanhou 19,6 milhões de votos em 2010. Quase passou ao segundo turno no lugar de José Serra. Foi, sem dúvida, a grande surpresa daquela eleição.

Desta vez, a carismática ambientalista, que tem suas raízes nos seringais do Acre, foi posta em segundo plano. E a possibilidade de transferência maciça de votos é remotíssima. Muitos dos seguidores de Marina não escondem a decepção. Os perfis da vice e do titular são muito diferentes. Se Marina sempre se apresentou como uma opção antipolítica, o mesmo não se pode dizer de Campos. Seu avô, Miguel Arraes, fez história e pagou com o exílio pelo apoio à reforma agrária e ao governo João Goulart. Mesmo no exterior, Arraes continuou símbolo da resistência à ditadura militar.

O neto, porém, cumpriu trajetória tradicional, sem maiores percalços. Graduado em economia, foi deputado estadual, deputado federal, secretário da Fazenda de Pernambuco, ministro de Ciência e Tecnologia no primeiro governo Lula e finalmente governador. Com base nessa trajetória, concluiu que chegou a hora de dar o grande salto e tornar-se presidente.

Que Eduardo Campos foi mordido pela mosca azul não há dúvida. Resta saber se tem chance real de realizar seu sonho. Diz o pré-candidato ao Planalto que “o Brasil, mais que um gerente, quer uma liderança que construa o diálogo, que respeite os diferentes, que não reduza o Brasil a um partido, que não amesquinhe o Brasil”. Diz também que, se for eleito, vai reduzir o número de ministérios pela metade e não haverá distribuição de cargos em seu governo “como se estivéssemos numa feira”.

O ex-governador é bom de retórica e de promessas. Mas isso não é suficiente para que ele seja confirmado como uma alternativa de poder. Além de pouco conhecido além das fronteiras de seu Estado, fazem falta a Eduardo Campos o carisma e os votos de Marina Silva. Por enquanto, intransferíveis.

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