Por bruno.dutra

Ocupa a cadeira de Paulo Skaf, que se licenciou do cargo para disputar o governo de São Paulo pelo PMDB. Também diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Steinbruch publica uma artigo quinzenal na “Folha de S.Paulo”. Em geral, seus textos expõem temas que estão na pauta de preocupações do setor produtivo e não repercutem. Ontem, porém, foi mais incisivo e fez uma advertência grave. Afirmou que o Brasil “caminha para uma recessão”. Segundo ele, vários indicadores confirmam “o esfriamento da atividade em vários setores, inclusive no comércio, que deveria ser beneficiado pelo movimento de compras da Copa”.

Números negativos, de fato, são divulgados a todo momento. A produção industrial não para de cair, após três quedas mensais seguidas. Em São Paulo, pelas previsões do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, a indústria fechará o ano com perda de 4,4% na produção, puxada pelo setor automotivo que tem sofrido quedas de 30% nos comparativos de 12 meses. E já surgem os primeiros sinais de uma consequência que pode ser inevitável e dolorosa: o reflexo no nível de emprego.

Se há dúvida sobre isso, vale a pena olhar a pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia sobre os temores que mais afligem os homens brasileiros. Foram ouvidos 3.500 homens com mais de 40 anos em sete capitais e 25% deles afirmaram que temem perder o emprego. Em Belo Horizonte, o índice foi mais alto ainda: 48% dos mineiros se assustam com o fantasma do desemprego.

Nesse mar de águas turvas, Steinbruch se diz preocupado com a falta de compromisso com o crescimento e a geração de empregos. Ele rejeita radicalmente a ideia — que considera conservadora — de que “o país precisa unicamente de corte de gastos públicos, correntes ou de investimentos, e de uma rigorosa política monetária”. E manda um recado para o Banco Central, que, hoje, deve manter a taxa Selic em 11% ao ano: “Às portas da recessão, a economia brasileira convive com os juros mais altos do mundo. E não se ouve um pio contra essa aberração”.

Para o dono da CSN, além, do custo do crédito, a indústria é enfraquecida pela guerra fiscal entre os estados, a infraestrutura precária e a falta de estímulos ao investimento em tecnologia. Enfrenta também a invasão do mercado por produtos estrangeiros. Essa guerra é desleal porque os concorrentes ganham generosos subsídios do país de origem.

No fim de seu artigo, Benjamin Steinbruch lança um desafio aos candidatos à Presidência da República. Que eles debatam com mais profundidade as questões cruciais da política econômica, “como juros, câmbio, crédito, política fiscal e de desenvolvimento, e incentivos ao capital nacional e à inovação tecnológica”. Propõe o presidente da Fiesp que os programas dos candidatos apresentem desde já o que será feito para reavivar o parque industrial brasileiro.

Está na hora de exibir a munição que vai garantir o crescimento e a geração continuada de empregos. “Não bastam discursos teóricos”, diz o empresário. Recomenda-se aos candidatos a leitura atenta do texto de Steinbruch. E que se prepararem para o desafio que lhes foi lançado. Os eleitores também exigem respostas claras e objetivas para os principais problemas da economia. Aqui e agora.

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