Por douglas.nunes

A sucessão presidencial começou para valer e trouxe junto uma nova temporada de denúncias. Já faz parte da tradição. Se há eleição pela frente, é hora de abrir o baú de acusações contra os adversários. Para os repórteres investigativos, é um período de colheita generosa. Documentos e gravações chegam à mão dos jornalistas nas redações e eles, com base nas informações recebidas, dão início à apuração minuciosa dos fatos. Assim que as reportagens são publicadas, o candidato alvo das denúncias fica acuado e procura se defender da melhor maneira possível, enquanto seus opositores entram em campo para tirar o máximo proveito das revelações. Às vezes, as denúncias caem no vazio e seus autores se desmoralizam. Mas, de forma geral, encontram repercussão na própria mídia, que trata de alimentá-las até a exaustão. E assim caminha a campanha eleitoral.

Este ano, com a disputa mais renhida, a troca de chumbo promete ser violenta. Começou com reportagem da “Folha de S.Paulo” sobre o aeroporto construído nas terras de um tio de Aécio Neves, na cidade de Cláudio, em Minas. O projeto foi financiado pelo cofres públicos ao tempo em que Aécio governava o Estado. O candidato do PSDB à Presidência rebateu a acusação de favorecimento, garantiu que tudo foi feito conforme a lei e tentou enterrar o assunto. Mas o PT tratou de pôr lenha na fogueira e pediu providências ao Ministério Público. Já o PSDB recebeu com um manjar dos céus a reportagem de “VEJA”, que acusa de farsa os depoimentos de ex-dirigentes da Petrobras na CPI do Senado sobre a compra da refinaria de Pasadena. Um gabarito das perguntas teria sido discutido previamente com os interessados, graças à intermediação de gente do governo. A acusação incomoda, mas a presidente Dilma Rousseff se desvencilhou, explicando que esse é um problema do Congresso, e não do Executivo.

Pela reação dos candidatos, tudo indica que as informações da imprensa têm fundamento, tanto em relação ao aeroporto privado de Cláudio, quanto à combinação entre amigos no caso da CPI da Petrobras. É munição farta para o arsenal do PT e do PSDB. Mas pau que dá em Chico dá em Francisco. E isso leva obrigatoriamente a uma indagação: até que ponto os eleitores ainda se sensibilizam com o tiroteio entre os candidatos? Em última análise, por que as acusações, fundamentadas que sejam, só vêm à tona quando começa a corrida eleitoral? Os eleitores têm motivo para desconfiar dessa coincidência. Se os desvios eram tão graves deveriam ser de conhecimento público há muito tempo. O oportunismo das denúncias chega a ser ostensivo. É meio na base do que colar, colou.

Entretanto, ao que se percebe nas ruas e nos ambientes de trabalho, os eleitores parecem cansados da tradicional troca de chumbo entre os partidos. É um jogo de carta marcada, que já não emociona. O que a sociedade deseja dos candidatos é resposta para os grandes problemas do país. Houve muitos avanços nos últimos anos, mas ainda há desafios a serem enfrentados. O que fazer, por exemplo, para melhorar a saúde pública e alcançar uma educação de qualidade? Como realizar a reforma tributária? Como tirar do papel a reforma política? Qual é a receita para recuperar o fôlego da indústria? É possível crescer a taxas maiores, sem alimentar a inflação? Diante dessas questões maiores, as denúncias políticas de ocasião perdem importância. São como fogo de palha.

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