Por bruno.dutra

O partido entrou em polvorosa e decidiu queimar etapas na estratégia de tentar desgastar a imagem da candidata do PSB. Havia dúvidas sobre o melhor momento para iniciar os ataques e também sobre a reação dos eleitores à campanha negativa. Mas, diante da disparada da adversária, o PT pôs sua tropa na rua, principalmente na internet. Até mesmo a presidente Dilma abriu mão da tarde de domingo e convocou a imprensa para registrar uma declaração sobre os riscos que o projeto econômico de Marina pode representar para a indústria nacional e a geração de emprego. “Eu li o programa da candidata e vi propostas que me deram muita preocupação”, disse ela.

Mesmo que a convocação dos jornalistas pareça um recurso excessivo, Dilma agiu conforme as regras do jogo. Deu o bom combate no campo das ideias e certamente voltará a questionar, nos próximos debates, as medidas de austeridade defendidas pela ex-ministra. É de se esperar que o esforço do PT – e também do PSDB – para desconstruir Marina Silva fique nesse terreno. É natural que se cobre coerência da nova oponente em relação à união civil de casais homossexuais e também cabe exigir uma definição objetiva sobre a votação do projeto que criminaliza a homofobia. Afinal, são questões polêmicas em tramitação no Congresso.

Também caiu mal o item do programa que defende a energia nuclear, pela clara contradição com as bandeiras ambientalistas. O candidato a vice, Beto Albuquerque, atribuiu os escorregões a “um equívoco da campanha”. É uma desculpa. Resta saber se vai convencer.

O passo atrás no programa de governo mostrou que Marina tem pontos vulneráveis contra os quais não custa investir. Ela hoje está forte e consistente, mas água mole em pedra dura tanto bate até que fura. E é essa exatamente a esperança de Dilma e também de Aécio Neves, que vê se distanciar a possibilidade de passar para o segundo turno. Há que tomar muito cuidado, porém, com o teor dos ataques a Marina.

Dependendo das críticas, existe o risco de gerar efeito contrário ao desejado. Que sentido faz, por exemplo, afirmar que Marina é evangélica convicta e costuma recorrer à Bíblia ao tomar decisões importantes. Dizem que passou a agir dessa forma quando enfrentou uma doença grave que parecia incurável. Sobreviveu e ficou agradecida a Deus. Criticá-la por esse motivo é um desrespeito às demonstrações de fé da maioria dos brasileiros, cada um com a sua crença.

Também chega a ser curiosa a comparação de Marina com Jânio Quadros. Só pode ser fruto de ignorância histórica. Jânio não foi eleito por obra da Providência. Era um candidato fortíssimo à Presidência. Saiu-se bem na prefeitura de São Paulo e no governo do Estado mais rico da União, combatendo a corrupção e executando grandes obras. D

isputou a sucessão de JK com o apoio da União Democrática Nacional (UDN), o maior partido da oposição, e recebeu 5,6 milhões de votos, derrotando o marechal Lott por mais de 2 milhões de votos. Ele parecia preparadíssimo para o cargo – na verdade, tinha experiência administrativa que Marina não tem. Mas Jânio bebia demais e, num dos seus porres, renunciou ao cargo. Deixou o país perplexo. 

Ao que se sabe, Marina Silva não bebe.

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