Por douglas.nunes

Até que enfim pinga uma boa notícia no roçado da presidente Dilma Rousseff. Se ela fosse Marina Silva, certamente ergueria as mãos aos céus. A produção industrial cresceu 0,7% entre julho e julho, o que não acontecia há cinco meses seguidos. A explicação para o resultado foi o desempenho da produção de bens de consumo duráveis e de bens de capital. Caso a tendência de julho se confirme, é possível que haja aceleração da formação bruta de capital fixo no terceiro trimestre, ou seja pode haver reação da taxa de investimento. Diante da novidade, o ministro da Fazenda, Guido Mantega,apressou-se em afirmar que o país vai crescer neste segundo semestre. “A economia não está parada. Não está em recessão. Teve problemas passageiros no primeiro semestre, mas neste segundo semestre vamos em direção a uma gradual melhoria. e não haverá recessão”, garantiu.

Ao comemorar a possível retomada, Mantega referiu-se a outro indicador: o Índice de Gerentes de Compra (PMI), divulgado pelo banco HSBC, que mede o “apetite dos gestores para comprar”. Alcançou 50,2 pontos em agosto, contra 49,1 pontos em julho. O que revelaria intenção da indústria de ampliar suas atividades. Como Mantega é otimista por natureza, é recomendável examinar os dados com o devido cuidado. Ao divulgar os números do IBGE sobre o desempenho da indústria em julho, o próprio gerente da pesquisa André Machado disse que é cedo para soltar fogos. “É claro que a base de comparação mais baixa de recuos sucessivos, combinada também com o mês de julho com um número de horas trabalhadas maior, com menos feriados, dá essa conotação do resultado positivo e de espalhamento. Há um mês de julho mais gordo em termos de horas trabalhadas “, explicou. Segundo ele, há uma recuperação, mas ainda é insuficiente para reverter as perdas dos meses anteriores.

O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco também se mostrou moderado em sua interpretação. Reconhece que o crescimento de 0,7% superou as expectativas do mercado, que apontavam crescimento de 0,5%., mas ressalta que, em relação a julho de 2013, a produção caiu 3,6%, acumulando queda de 1,2% nos últimos doze meses. O informe assinado por Octávio de Barros, economista-chefe do banco, chama a atenção para o comportamento dos insumos típicos da construção civil que, em conjunto com a produção de bens de capital, “têm uma correlação bastante alta com os investimentos, capturados pela formação bruta de capital fixo no PIB”. Nesse agregado, houve retração de 7,6% em julho em relação a junho, com queda acumulada de 5,5% nos primeiros sete meses do ano. O Bradesco conclui que o cenário é de ligeira melhora dos investimentos na passagem do segundo para o terceiro trimestre e prevê para agosto uma nova alta de 0,5% na produção industrial.

Os sinais de recuperação, portanto, ainda são tímidos. E tudo indica que a festa de Guido Mantega é prematura. Mas, com as eleições batendo à porta e o projeto de poder do PT ameaçado pelo avanço de Marina, o ministro da Fazenda foi incumbido pelo Planalto da árdua tarefa de defender a política econômica do governo. Mantega, certamente, usará todos os argumentos possíveis. E, nessa hora crítica em que a economia ganha espaço cada vez maior nos debates, os indicadores positivos, mesmo que frágeis, funcionam como água no deserto para a campanha de Dilma Rousseff.

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