No maior corte aplicado aos principais países, o FMI rebaixou de 1,3% para 0,3% a previsão de crescimento do PIB deste ano. E também projetou um desempenho modesto para 2015: em lugar dos 2% estimados anteriormente, o número agora não passa de 1,4%, na revisão mais drástica de prognóstico para o ano que vem. Na análise do FMI, o Brasil sofre as consequências da desaceleração dos investimentos e da moderação do consumo das famílias. “Pouca competitividade, baixa confiança empresarial e aperto nas condições financeiras (elevação dos juros) represaram investimentos e a moderação corrente na geração de empregos e na expansão do crédito está afetando o consumo”, resumiu o Fundo.
O diagnóstico do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, não é muito diferente do que pensam seus colegas brasileiros. O próprio Banco Central, comandado por Alexandre Tombini, ao corrigir para baixo o crescimento do PIB (de 1,6% para 0,7%), apontou a queda nos níveis de confiança de empresários e consumidores como principal obstáculo à retomada do crescimento.
E explicou, em relatório oficial, que, para quebrar as expectativas negativas, é necessário manter a prioridade absoluta ao combate à inflação, o que exige a manutenção da taxa Selic em 11% ao ano por período prolongado. As principais instituições do mercado financeiro já trabalham com PIB de 0,24% e também fazem suas previsões levando em conta as restrições no investimento e no consumo. Até mesmo o Ministério do Planejamento deu o braço a torcer e assumiu que a economia crescerá menos de 1%.
O desaquecimento econômico afeta o ânimo das empresas e das famílias — e também mexe com o eleitorado. Não por acaso, o resultado das eleições de domingo mostrou um péssimo desempenho do PT e de Dilma Rousseff no Sudeste e no Sul. Vale a pena conferir: em 27 estados, o PT elegeu apenas dois senadores. Na Câmara, o balanço também foi decepcionante. O partido do ex-presidente Lula levou um tombo e elegeu 70 deputados, contra 88 em 2010.
O desgaste do PT, obviamente, se refletiu no sufrágio da presidente Dilma, que perdeu 4,4 milhões de votos em relação a 2010. O que é ainda mais grave quando se sabe que, entre dois pleitos, o número de eleitores subiu de 135,8 milhões para 141,8 milhões. Os votos de Dilma no Norte/Nordeste garantiram sua vantagem no primeiro turno, mas podem não ser suficientes para lhe dar a vitória no segundo turno.
Diante da voz das urnas, um renomado especialista em pesquisas afirma que, mais do que tentar desconstruir Aécio Neves, os responsáveis pela campanha do PT deveriam se preocupar em fortalecer a imagem da presidente Dilma. Um passo nessa direção seria exatamente indicar os caminhos para a reativação da economia. Não adianta atribuir as dificuldades à crise internacional e também parece pura perda de tempo atacar o ex-presidente do BC Armínio Fraga, como fez ontem o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini.
Os tucanos já revelaram sua receita para tirar a atividade econômica do atual marasmo. Defendem, por exemplo, a reforma tributária e um ajuste fiscal seletivo. Está na hora de a presidente Dilma apresentar propostas. Do contrário, seu sonho de reeleição corre séria ameaça.