Por diana.dantas

Na entrevista de ontem no Brasil Econômico, o ex-prefeito Cesar Maia fez uma exaltação aos 450 anos do Rio de Janeiro, mas afirmou que é “uma loucura” o que estão fazendo com o Centro da cidade. Ele explica que as intervenções da prefeitura, em nome da modernização, provocaram um desmonte, uma verdadeira desintegração, afastando as pessoas da região. “A queda nas vendas do comércio é alarmante”, adverte o experiente político. Ele prevê que o bairro nunca mais será o mesmo: “Daqui a dez anos vai ser uma marca que a história vai registrar como desastre urbanístico”. Pode ser previsão pessimista demais, resultado da oposição que Maia faz ao prefeito Eduardo Paes, apontado como potencial candidato à sucessão de Dilma Rousseff. Mas a verdade é que o esvaziamento do Centro salta aos olhos.

Obviamente, a prefeitura aposta que o povo carioca voltará a frequentar os escritórios, as lojas e pontos de cultura das ruas onde pisou gente famosa como Olavo Bilac, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. Bilac, para quem não sabe, era recebido com aplausos pelos amigos quando entrava na Confeitaria Colombo, a centenária casa de Gonçalves Dias que continua a emocionar os clientes com seus majestosos espelhos austríacos. Machado de Assis fundou a Academia Brasileira de Letras, cuja sede está instalada no bairro do Castelo na réplica do Petit Trianon, que foi sede da delegação francesa durante a Exposição Internacional de 1922. Drummond marcava encontros nas calçadas da Avenida Rio Branco, no seu passeio quase diário da Rua do Ouvidor até a Biblioteca Nacional. Esse Rio de Janeiro dos grandes poetas e escritores não voltará mais. Mas a ambição dos que amam a Cidade Maravilhosa é bem mais modesta: querem apenas que o Centro sobreviva às intervenções atuais.

Para além da preocupação de Cesar Maia, quem morre de orgulho com as belezas naturais e arquitetônicas do Rio faz uma pergunta inevitável: Por que as ruas do Centro são tão sujas? O que explica a imundície da Velha Lapa, bairro boêmio redescoberto nos últimos anos pelos jovens e pelos turistas? Em qualquer grande cidade do mundo, área com o perfil da Lapa mereceria atenção redobrada das autoridades, que, certamente, zelariam pela conservação dos prédios antigos. Não faz sentido ver botequins e restaurantes encravados em construções desmanteladas, caindo aos pedaços. Quem caminha por ali fica imaginando quão magnífico seria o bairro se merecesse uma postura urbana adequada. Até quando a Lapa será símbolo de lixo, esgoto ao ar livre e mau cheiro?

Em todas as pesquisas de opinião feitas por revistas especializadas em turismo, o Rio de Janeiro é apontado, com inteira justiça, como uma das cidades mais belas do mundo. Abaixo do Equador, disputa o troféu apenas com Sydney, a capital da Austrália. Acima, enfrenta a tradição europeia de Paris, Londres, Roma e Praga. Perde pontos, não é novidade, no item segurança. É lamentável, de fato, que um turista seja morto a punhaladas em plena luz do dia no Largo São Francisco, no Carnaval. A questão da violência é complexa, exige investimentos e inteligência e não será resolvida a curto prazo. Mas a sujeira do Centro não tem justificativa. Deve-se a puro desleixo. Será que os cariocas e as cariocas que sonham com sua cidade limpa vão ter de esperar mais 50 anos?

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